Domingo IV da Páscoa

Foto: Rui Saraiva

3 de Maio de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura dos Actos dos Apóstolos                                                                       Actos 2,14a.36-41

«Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados»

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 22 (23)

O Senhor é meu pastor: nada me faltará.

 

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro                                                        1 Pedro 2,20b-25

«Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, sobre o madeiro da cruz».

 

Aclamação ao Evangelho                       Jo 10,14

Aleluia.

Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:

conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                            Jo 10,1-10

«Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem.».

«Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».

 

Viver a Palavra

No quarto ano de catequese, quando os catequizandos abordam as Cartas de S. Paulo são convidados a escrever uma carta ao pároco onde lhe agradecem o seu serviço à comunidade e onde lhe fazem algumas perguntas. Apesar da minuta que o guia do catequista propõe para a resposta do pároco, sempre fiz questão de responder a cada um de acordo com o seu texto e com as perguntas que me dirigia. Não consigo esquecer as muitas cartas que li e respondi, mas hoje recordo particularmente uma delas em que um dos miúdos me agradecia porque sempre que se encontrava comigo, eu o chamava pelo seu nome. Para o pequeno Tiago chamá-lo pelo nome manifestava a proximidade, a atenção e o carinho que tinha por ele. Ele não era mais um numa massa indistinta a quem o padre era chamado a servir, mas alguém que era conhecido pelo seu próprio nome, reconhecido na sua individualidade e irrepetibilidade. Ao ler esta carta era inevitável não recordar as palavras de Jesus em que se apresenta como Bom Pastor que conhece as suas ovelhas e chama a cada uma pelo seu nome. Como recorda o biblista Raymond E. Brown no seu comentário ao Evangelho de João, os rebanhos que pastavam nas montanhas da Judeia pertenciam a diversos proprietários e, assim, cada pastor fazia-se reconhecer junto das suas ovelhas através da sua voz e pelo nome com que as chamava.

A imagem do pastor apresentada por Jesus fazia parte do quotidiano daqueles que o escutavam e esta figura bucólica do pastor descrevia o modo solícito, disponível e total que caracteriza a arte de cuidar. Não se pode ser pastor de segunda a sexta, com folgas e feriados. Ser pastor implica uma disponibilidade e atenção constantes, uma ternura e desvelo que cuida, ama, conhece, nutre e protege.

É muito curioso que apesar de Jesus sublinhar esta atenção e cuidado em chamar cada ovelha pelo seu nome, os evangelhos falam sempre de rebanhos e não de ovelhas isoladas. Quando se fala de uma ovelha sozinha ou separada é para descrever uma situação negativa de uma ovelha desgarrada ou perdida que se afastou do rebanho, que deixou de seguir o pastor e ouvir a sua voz.

Fixando o nosso olhar em Jesus, Bom, Belo e Perfeito Pastor, somos chamados a reconhecer o cuidado e o desvelo com que o Senhor cuida de nós. Como cantávamos no Salmo: «O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma». Somos amados e agraciados pelo Deus do amor e da misericórdia que em Jesus Cristo se entrega todo e até ao fim para salvar o Seu rebanho da morte e do pecado.

«Eu sou a porta das ovelhas».

Jesus é a «Porta» pela qual entramos em comunhão com o Pai e descobrimos um novo horizonte de sentido para as nossas vidas. Não é uma porta para o confinamento e isolamento que estamos habituados neste tempo exigente de pandemia, mas uma «Porta» que nos faz verdadeiramente livres e nos aponta a plenitude para a qual somos chamados. Deste modo, Jesus é a «Porta» de ingresso por onde entramos para saborear a bondade e a ternura do Pai e a «Porta» de saída de onde partimos ao encontro dos irmãos como testemunhas da alegria do serviço por amor que transforma a vida e o mundo num lugar mais belo e mais feliz.

Salvos e redimidos pelo amor misericordioso do Bom Pastor, como a multidão que na manhã de Pentecostes escutava a Boa Nova da Ressurreição, também nós perguntamos: «Que havemos de fazer, irmãos?». Na verdade, temos consciência que a vida cristã não é apenas uma doutrina a saber ou uma moral a cumprir, mas um amor a acolher como dom e a concretizar em obras de amor e misericórdia que fazem presente o acontecer de Deus no mundo no fazer das nossas mãos generosas e operantes que se abrem à conversão e à vida nova.

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de São Gregório, papa,

sobre os Evangelhos (Séc. VI)

Eu sou o Bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, isto é, amo-as, e elas conhecem-Me. Como se quisesse dizer claramente: obedecem Àquele que amam. Quem, efectivamente, não ama a verdade, é porque ainda não a conhece. E já que ouvistes, irmãos caríssimos, o perigo que corremos nós, ponderai bem, por estas palavras do Senhor, o perigo que correis vós também. Vede se sois suas ovelhas, vede se O conheceis, vede se possuís a luz da verdade.

Se O conheceis, digo eu, não só pela fé, mas também pelo amor e pelas obras. O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma noutro lugar: Quem diz que conhece a Deus e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso. Por isso, nesta passagem o Senhor acrescenta imediatamente: Assim como o Pai Me conhece, também Eu conheço o Pai, e dou a vida pelas minhas ovelhas. Como se dissesse explicitamente: a prova de que Eu conheço o Pai e sou por Ele conhecido, está em que dou a vida pelas minhas ovelhas; por outras palavras: o amor que Me leva a morrer pelas minhas ovelhas mostra até que ponto Eu amo o Pai.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O IV Domingo do Tempo da Páscoa é tradicionalmente designado como Domingo do Bom Pastor e nele celebramos o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Além disso, este ano, neste Domingo celebramos também o dia da Mãe. Assinalando o Domingo do Bom Pastor recordamos aqueles que seguindo Jesus, Bom e Belo Pastor, pelo dom do ministério sacerdotal, exercem o seu ministério em favor do Povo de Deus. Agradecendo o dom de tantas vidas que se fazem pão partido e repartido em favor dos irmãos, rezamos também para que o Senhor conceda à Igreja o dom de homens e mulheres comprometidos com a sua vocação na variedade de serviços e ministérios para os quais o Senhor nos chama. Neste Domingo, agradecemos e rezamos também de modo particular por todas as mães que são sinal da ternura e bondade que contemplamos no Rosto misericordioso do Bom Pastor. Que seja uma jornada de oração e agradecimento! Na oração em família, é oportunidade de rezarmos juntos por estas intenções e, porventura, a oportunidade de em família enviar uma mensagem de agradecimento ao nosso pároco pelo seu serviço à nossa comunidade.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura é a continuação do longo discurso de Pedro no dia de Pentecostes. Além do tom exortativo que deve caracterizar a proclamação desta leitura, o leitor deve ter em atenção a interpelação que a multidão faz a Pedro e o modo como essa questão desperta o convite de Pedro à conversão e ao Baptismo. A segunda leitura sendo de fácil proclamação requer apenas um especial cuidado nas pausas e respirações para uma articulada e eficaz leitura do texto.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: A bondade do Senhor encheu a terra. Aleluia – A. Cartageno (CN 138); Salmo Responsorial: O Senhor é meu pastor (Sl 22) – F. Santos (CN 713); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu sou o Bom Pastor, diz o Senhor – Gregoriano (CN 44); Ofertório: Eu sou a porta – A. Cartageno (CN 443); Comunhão: Eu vim para que tenham vida – F. Silva (CN 462); Pós-Comunhão: Deus é bom pastor – M. Luís (CN 354); Final: Na sua dor os homens – Ressuscitou, ressuscitou. Aleluia! – A. Cartageno (CN 864).