
Há alguns dias um amigo meu telefonou-me. Já não o via, nem ouvia há mais de três dezenas de anos. Trabalhamos juntos e depois cada um seguiu o seu caminho. Marxista convicto, agnóstico daqueles que se interrogam porque não têm fé, mas amigo de cada um e do seu povo. Um ateu daqueles que irradiam luz. Então, com a voz embargada, dizia-me o que sentiu quando viu aquele homem só, vestido de branco, e lhe tocou no seu mais profundo ser. Comovido porque sentiu como ninguém o gesto do bispo do Porto na ponde D. Luís. E, dizia, admirar a coragem de fechar os templos, para defesa das pessoas. Continua a não ter fé, a ser marxista e agnóstico, mas sentiu a necessidade de me dizer isto: não sei rezar, mas quando todas as noites vou dormir, penso que se existe Jesus, que eu não acredito, então que proteja esse homem de branco que o confundiu. Agora, era eu, que não tinha fé, como é possível que um amigo meu, que há tantos anos não via, me tenha telefonado, só para dizer isto. Que continue a ser marxista, agnóstico, sem fé, mas a seguir um caminho que tantas e tantos de nós não segue: o de Cristo Ressurreto, embora não acredite nele.
Um homem só, com uma cara carinhosa e desgostosa, Caminhando num suplicio doloroso, via-se, e com dificuldade. Um homem que sorri, mas sabe chorar com os que choram. Longe dos apitos dos carros com cruzes, que longe de levar esperança, podem contribuir para o aumento das contaminações, um homem só, numa praça vazia, pode mover a humanidade, cada homem e mulher de boa vontade. Sem falar, mas andando com confiança e transmitindo essa confiança. Longe dos holofotes de sabedoria de Boris, Bolsonaro ou Trump, Francisco, como ele diz bispo de Roma, chamou todas as cristãs e todos os cristãos à sabedoria do amor e da misericórdia.
A Igreja, todas as tradições religiosas, devem ser chamadas à intervenção ativa. Essa ação passa muito mais pela Ecologia Espiritual, de que está a humanidade carecida. Agora e até com uma inversão do vírus em alguns países, a Igreja é chamada a dar a confiança e a esperança numa humanidade esclarecida, aliás como o serviço especial para o COVID – 19, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, organismo do Vaticano, o pretende fazer de forma a enfrentar os desafios socioeconómicos e culturais do futuro.
Que cada diocese responda a esta chamada é o que se espera.