Covid-19: Ameaças de guerra em tempo de pandemia

Foto: Peter Foley / EPA

Por António José da Silva

No princípio deste mês, alguma Comunicação Social fez referência ao agravamento da tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela. Foi uma referência que noutras circunstâncias mereceria um destaque muito maior, mas que, face ao monopólio informativo do coronavírus, parece não ter merecido uma grande atenção à opinião pública internacional. Trata-se de um desinteresse provocado ainda pelo facto de a situação política daquele país sul-americano não conhecer, já há algum tempo, qualquer evolução digna de registo. Nicolas Maduro continua a ser, de facto, o presidente venezuelano e Juan Guaidó o presidente de direito, ainda que não reconhecido pela maioria dos estados do mundo.

De um lado e de outro, sobretudo da parte dos Estados Unidos, foi anunciada a mobilização de homens e meios dos três ramos das forças armadas, como se estivesse próximo um confronto militar com o inimigo de estimação que é a Venezuela de Nicolas Maduro. Da parte deste, subiu o tom da guerra psicológica, quer a nível interno, quer a nível externo, com as acusações habituais ao grande inimigo do Norte, acusações que servem para fomentar a unidade do povo e para justificar a ameaça de que, no caso de um conflito militar, os americanos irão conhecer um novo Vietnam à porta casa, um cenário que tem sempre efeitos traumatizantes para estes últimos, Mesmo assim, e apesar do estilo de ambos os discursos, a hipótese de uma guerra entre os Estados Unidos e a Venezuela não de afigura, para já muito próxima. É que os americanos enfrentam, no imediato, uma outra guerra, e esta estão a perdê-la a um ritmo surpreendente: falamos da guerra contra o Covid-19.

Sabemos como inicialmente Donald Trump desvalorizou a ameaça deste vírus, numa manifestação simultânea de orgulho e de ignorância difícil de entender. E recordamos ainda o aviso de alguém, logo no início da tragédia: “esqueçam o 11 de Setembro”. Na verdade, o número das vítimas do Covid-19 já superou largamente o das vítimas daquele ataque terrorista, bem como o número de vítimas americanas na guerra do Iraque, primeiro, e na guerra do Afeganistão, depois. Embora as últimas notícias acerca da evolução da pandemia já não sejam tão graves como as de há umas semanas atrás, a contabilidade total aponta já para consequências próprias de uma guerra de grandes dimensões.

Espera-se que o agravamento da tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela não degenere numa guerra entre os dois países, até porque esta arrastaria para a contenda outros estados. Mas com dois governantes populistas como Trump e Maduro, nunca se sabe…