Uma humanidade que se vai (des)cobrir?

Por Joaquim Armindo

Passamos, no domingo, a comemoração de Jesus ressurreto, que enfrentou a morte e a venceu. Não se cobriu com os poderes da época e suplantou a igreja do tempo, inaugurando um novo tempo, o do amor e da misericórdia. Naquele tempo também havia um “vírus”, até mais desgastante, o domínio do povo israelita por Roma e os dos poderes do Templo sobre o povo. Duas forças que se alinharam para recuperar domínios, que podiam ser ameaçados por Jesus, afinal um filho de um carpinteiro de Nazaré. Jesus consegue com a sua Ressurreição vencer o “vírus” da submissão e libertar para a liberdade a humanidade, no dizer de São Paulo. O terror das armas violentas que cultivava o senhorio sobre os homens judeus e, consequentemente, as mulheres, naquele tempo, e hoje!, mais subjugadas, e o terror que impunham os sumo-sacerdotes, isto é, o clero de então. Jesus com a sua Ressurreição ataca estes “vírus” com a violência do amor e da misericórdia de Deus. Não se atemoriza com a cruz a mais severa condenação à época, mas fomenta o alento decisivo contra qualquer escravidão pelos poderes. Um novo poder nasce então, o do serviço.

Hoje a humanidade tem um vírus, que conhecemos, que é o do individualismo e do populismo, da desigualdade e do esmagamento das culturas dos povos. Aparece, agora, um chamado COVID -19, que mata, qualquer homem ou mulher, poderoso ou não. Mas nem por isso, não haver aceção de pessoas ao vírus, a humanidade parece descobrir o caminho de o atacar; prefere tentar cobri-lo, e salvar “os seus”, da sua família, do seu país.

Já se prepara para o tempo que aí vem, após o vírus, porque os países mais poderosos o podem dominar, sem atender à morte de tantos emigrantes e tantas filhas e tantos filhos de Deus, dos países mais pobres, onde ainda não chegou em larga escala, e quando chegar talvez não saibamos contar as vítimas. Ao primeiro nível, que não é o cultural e espiritual, aparece o económico, mas nem aí existe acordo, os dirigentes dos povos mais ricos não estão solidários entre si.

Não sei se, nem com este vírus COVID-19, vamos no caminho da ressurreição da humanidade, os poderes não deixam descobrir uma outra humanidade, onde a ressurreição teria lugar. Será, nestes momentos, que a Igreja tem um papel fundamental, alertar com muita energia que a descoberta duma humanidade é possível, como o foi a ressurreição do Senhor em quem cremos.