O bispo auxiliar do Porto, D. Pio Alves, que também foi Administrador Apostólico do Porto entre 2013 e 2014, completa neste dia 10 de abril 9 anos de ordenação episcopal (2011). No dia 20 deste mês celebrará 75 anos de idade. Em agosto próximo contará 52 anos de ordenação sacerdotal. Em jeito de saudação e agradecimento, recuperamos aqui a entrevista que concedeu à VP aquando do seu cinquentenário sacerdotal.
D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto, completou 50 anos de ordenação sacerdotal no dia 15 de agosto de 2018. Em entrevista à VP, fez um balanço deste seu longo percurso ao serviço da Igreja recordando os tempos de seminário, os seus primeiros passos como jovem sacerdote e a sua missão na diocese do Porto.
VP: A sua vocação sacerdotal cedo se revelou?
PA: Há cinquenta anos a maioria dos candidatos ao sacerdócio iniciavam os seus estudos após a quarta classe e a idade normal de ordenação era 22, 23, 24 anos. Sim, desde de miúdo que comecei a pensar na possibilidade de ser sacerdote, coisa que não me resultou difícil, pois Deus serve-se de todos os meios e os meus estavam em casa. Dois meus irmãos mais velhos eram padres. Eu sou o último de 12 irmãos e quando eu fui para o seminário dois dos meus irmãos mais velhos já se tinham ordenado. E depois na minha paróquia havia mais de 20 seminaristas, portanto, o ambiente estava criado.
VP: Alguma recordação especial, algum facto dos seus primeiros tempos de sacerdote?
PA: Os meus primeiros tempos de sacerdote foram passados em Guimarães durante dez meses, na paróquia de Creixomil como coadjutor. Tenho uma gratíssima recordação desses meses nos quais o pároco teve a amabilidade de me ajudar e de me deixar trabalhar com responsabilidade. Confesso que tenho toda a consideração pelo pároco de então, o padre Horácio. Foram dez meses de trabalho intenso mas que me ajudaram muito.
VP: É um padre do pós Concílio. Isso marcou a sua vida sacerdotal?
PA: Padre do pós Concílio mas seminarista do Concílio. Os meus estudos teológicos foram acompanhados pela curiosidade e interesse pelos documentos que iam saindo. Aqui em Portugal foram saindo em fascículos, pela iniciativa da Companhia de Jesus, nomeadamente, um sacerdote que acompanhou muito de perto a publicação dos documentos e nós estudantes seminaristas estávamos sempre ansiosos por saber quando saíam documentos que íamos lendo com alguma frequência.
Depois dos dez meses de trabalho na paróquia em Guimarães fui continuar os meus estudos teológicos na universidade. E aí, como é obvio, o ambiente conciliar estava perfeitamente presente.
VP: O Papa tem insistido muito no perfil pastoral dos sacerdotes. Que comentário lhe ocorre a expressão: “padres com o cheiro das ovelhas”?
PA: Esse é claramente um apelo do Santo Padre à proximidade dos sacerdotes e de todos os que temos responsabilidades hierárquicas na Igreja, para não perdermos a noção das pessoas que diretamente nos estão confiadas. Porque o que realmente interessa são as pessoas. As estruturas, os planos e os projetos só fazem sentido na medida em que mais facilmente possamos chegar às pessoas nos contextos concretos em que elas se situem.
VP: “Caritas in Veritate” – assumiu uma Encíclica para o seu lema de episcopado, foi administrador apostólico da diocese do Porto e é bispo auxiliar. Como tem sido a sua missão no Porto?
PA: Quando me foi comunicado o convite do Santo Padre Bento XVI para ser bispo, pensei numa frase que pudesse resumir aquilo que poderia ser o meu projeto de serviço episcopal. E tento que essa frase que está no meu lema episcopal, de facto, resuma a minha atividade.
“Caridade na Verdade” que é, se calhar, um modo diferente, de dizer “pastores com cheiro a ovelha”. Isto é, que a verdade tem de ser dita, a mensagem tem de ser comunicada, nós não somos senhores da mensagem, não somos a meta final, mas simplesmente intermediários.
Mas temos que saber sintonizar com as pessoas com as situações. Isto é, esse equilíbrio que devemos tentar de que nós temos que ser claros com as pessoas mas sendo não só educados mas corretos e amáveis. Portanto, é isso que tento fazer sem artificialismos, partindo do meu legítimo modo de ser. Cada um tem o seu, e Deus, somando os distintos modos de ser, é que faz com que este mundo seja tão interessante.
Costumo dizer que se fossemos todos iguais o mundo seria uma grande chatice. Graças a Deus não somos iguais. Procuro estar ao serviço da mensagem cristã e ao serviço da Igreja no exercício do ministério episcopal e, ao mesmo tempo, estar ao serviço das pessoas procurando transmitir. Respeitando as pessoas na sua identidade, respeitando as pessoas nos seus ritmos e na sua linguagem, mas não me escondendo nessa necessidade de ser próximo e de ser amável com os outros.
VP: Nestas bodas de ouro sacerdotais que balanço faz deste longo percurso de serviço à Igreja?
PA: Quando fui percebendo desde miúdo que Deus me chamava por aqui, não tinha no meu horizonte ser sacerdote para qualquer espécie de afirmação pessoal, mas como serviço. É evidente que isto vai-se percebendo cada vez com mais detalhe à medida que o tempo passa. Procurei, de modos diferentes, nos mais variados contextos e serviços a que pertenci, ao longo destes 50 anos, estar ao serviço da Igreja e não trabalhar sozinho.
Dou graças a Deus porque pude contar com excelentes colaboradores, não me sobrepondo. Procurei ouvir, procurei trabalhar com eles. E tenho a perceção de que tenho a alegria de olhar para trás e de ver que fui deixando amigos nos diferentes serviços em que estive. E é uma lista felizmente extensa de pessoas amigas com quem fui contactando e que não me esquecerão e eu também não me esqueço.
D. Pio Alves: um percurso ao serviço da Igreja
D. Pio Alves nasceu em Lanheses no Concelho de Viana do Castelo a 20 de abril de 1945. Foi ordenado presbítero a 15 de agosto de 1968 na Sé de Braga. No primeiro ano de sacerdote, foi coadjutor na paróquia de Creixomil (Guimarães). Entre 1983 e 1994, colaborou nas paróquias de Maximino; Matriz (Ponte de Lima: (1983-1994; 2001-2003); Nª Sª de Fátima / Nª Sª das Dores (Lisboa: 1999-2000).
Foi Assistente do Núcleo de Braga da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (1983-1994); Vigário Episcopal da Fé da Arquidiocese de Braga (1985-1991); Delegado da Arquidiocese de Braga para a Voz do Minho da Rádio Renascença (1985-1994); Presidente da Comissão Arquidiocesana de Liturgia (1986-1991) e Director do Secretariado Arquidiocesano para a Comunicação Social (1990-1991). É Cónego da Sé de Braga desde 1987, onde foi Mestre-Escola (1987-1990), Chantre (1990-2003) e Deão desde 2003.
Foi ainda Diretor do Arquivo e Biblioteca da Sé de Braga e Diretor do Tesouro-Museu da Sé de Braga e, nessa qualidade, presidiu aos trabalhos de ampliação e remodelação das suas instalações e coordenou a preparação da exposição permanente Raízes de Eternidade. Jesus Cristo, Uma Igreja.
Foi nomeado bispo pelo Papa Bento XVI a 18 de fevereiro de 2011 e ordenado a 10 de abril desse mesmo ano. É bispo auxiliar do Porto tendo sido nomeado administrador apostólico da diocese a 1 de julho de 2013 até à entrada de D. António Francisco dos Santos em 2014. A nível nacional exerceu o cargo de Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, eleito a 8 de novembro de 2011. Em 2019 foi distinguido pela Câmara Municipal de Viana do Castelo como “Cidadão de Honra”.
RS