Foi anunciada a atribuição do prémio “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes” da Conferência Episcopal Portuguesa ao professor, pensador, ensaísta e interventor cultural Eduardo Lourenço. O primeiro desses prémios foi para um poeta, Fernando Echevarría, em 2005, e último distinguiu historiador e pensador José Mattoso. A ele ficaram associados filósofos, investigadores e artistas em vários domínios da cultura. O prémio pretende assim evidenciar aqueles que procuraram introduzir no tecido social através das diversas dimensões da criatividade humana e do seu pensamento a dimensão do espírito cristão. É pois o humanismo cristão, o imperativo da Transcendência, a meditação sobre o sentido da condição humana e das dimensões do Universo que motivaram a edificação do prémio e orientam a sua atribuição.
Eduardo Lourenço, nascido em 1923, quase centenário, é reconhecidamente uma das grandes figuras do pensamento português. Já mereceu os mais valiosos reconhecimentos institucionais. Este, certamente justificado, surge mais como uma valorização do prémio do que reconhecimento do seu destinatário. Dar um prémio a Eduardo Lourenço leva-nos a pensá-lo quase como um reconhecimento que apenas veio tarde. Pode perfilar-se como modelo, mas somos levados a pensar que o prémio poderia ser também o estímulo para outros pensadores ou artistas cristãos.
Num diálogo com Álvaro Siza Vieira, Eduardo Lourenço produz esta reflexão: “O problema é que nós, consciente ou inconscientemente, escrevemos como se fôssemos eternos. Sem essa ilusão de eternidade, como coisa nossa, não escreveríamos nada de realmente grandioso… A morte real é para nós sempre a morte do outro que existiu para nós”.
Eduardo Lourenço está vivo. A sua Mitologia da Saudade ou a reflexão sobre a Europa desencantada continuam connosco. Que ele valorize o prémio que lhe foi dado e ajude os seus responsáveis a pensar e descobrir quem no nosso universo mental possa ser o seu sucessor.
CF