Em memória de José Portulez Ruiz (1925-2020)

Quem participou nas celebrações mais solenes da catedral (como ordenações, festas jubilares, acontecimentos eclesiais ou sociais), nas últimas décadas do século XX terá presente a ação de um fotógrafo que se encarregava de registar e divulgar o decurso e o sentido das celebrações e a sua memória fotográfica para os participantes.

Em tempos em que o registo exigia meios e suportes hoje já quase abandonados, o seu papel foi determinantes na manutenção da memória dos acontecimentos e das pessoas.

Era um amigo da diocese e da Voz Portucalense. Vinha sempre disponibilizar os seus trabalhos. O arquivo deste semanário diocesano possui centenas de trabalhos seus.

Lembro tantas vezes que aparecia à redação da rua de Santa Catrina oferecendo imagens de acontecimentos. Lembro sobretudo de quando, a propósito do centenário de D. António Ferreira Gomes veio oferecer à Voz Portucalense (e creio que também ao Paço Episcopal e à Fundação Spes) um álbum por ele elaborado recordando a memória do antigo Bispo do Porto.

Nesse álbum, com prefácio de D. Armindo Lopes Coelho, se encontram memórias por ele fotografadas da chegada do exílio, em 1979, do regresso à Casa Episcopal, de várias ordenações sacerdotais, das suas bodas de ouro, da ordenação de D. Armindo, da homenagem ao P. Luís Rodrigues, e da grandiosa homenagem que lhe foi prestada no Palácio da Bolsa em 1982, da entrada nesse ano de D. Júlio Tavares Rebimbas, e da visita do Papa João Paulo II ao Porto em maio desse ano.

José Carlos Portulez Ruiz era portuense e tinha feito a sua formação eclesial como membro da Juventude Operária Católica em meados do século XX. Foi impulsionador entusiasta daquele núcleo de trabalhadores cristãos na paróquia de S. Nicolau. Mais tarde tornou-se dinamizador dos encontros desse grupo de antigos jocistas, que mantinham a ligação, a amizade e o espírito desses tempos, como era anunciado cada ano da Voz Portucalense.

Residindo na zona do Bonfim, na íngreme Calçada da Póvoa, tornou-se membro e colaborador da Irmandade de S. Crispim e Crispiniano, sita na rua de Santos Pousada. Quis que ali fosse celebrada a sua memória fúnebre, o que não foi possível pelas limitações presentes às celebrações de funerais. A seu tempo ali celebraremos a sua memória.

Uma das suas ações a que dedicava um especial interesse e disponibilidade era a apresentação promovida pela paróquia de S. Nicolau, ali no centro histórico do Porto, por proposta e vontade do pároco, P. Agostinho Jardim: cada dia 6 de Janeiro ele se vestia do Bispo S. Nicolau, como se sabe a origem da figura do Pai Natal e vinha de barco ao encontro das crianças reunidas na zona da Ribeira para festejar com eles o santo padroeiro da paróquia, procurando assim dar o sentido de que o Pai Natal foi uma figura que vem ao encontro das crianças para lhes anunciar o Menino.

O seu funeral foi oficiado por D. Januário Torgal Ferreira, com o diretor da Voz Portucalense, P. Manuel Correia Fernandes, em cerimónia privada da família, no cemitério do Prado do Repouso, onde, segundo a sua vontade foi sepultado em campa rasa.

CF