
Por António José da Silva
A crise mundial provocada pelo aparecimento e disseminação do coronavírus tem sido pretexto para reacções diversas entre os governantes de alguns países. Entre estes, há mesmo os que nem sequer manifestaram ainda qualquer reacção, limitando-se a ignorar o drama, como se este retivesse ainda muito longe de chegar ao seu povo. Pelo menos até há pouco tempo, era o caso, por exemplo, da Coreia do Norte, que, ao contrário do seu vizinho do Sul, ainda não deu sinal de conhecer qualquer caso no seu país. Recorde-se que o governo de Seul, que reconheceu o perigo logo no início da pandemia, tem sido apontado como verdadeiramente exemplar no seu combate ao víru que, pelo menos oficialmente, este parece não ter atingido o país de Kim Jong Un.
Um pouco estranho não deixa de ser também o caso da República Popular da China. Foi numa das suas províncias que “nasceu” o famoso vírus, pelo que aquele país manteve, durante algum tempo, o recorde de pessoas infectadas, e ainda o recorde de maior números de vítimas mortais. A verdade é que um ataque rigoroso e atempado ao vírus fez com que a China, pelo menos aparentemente, acabasse por vencer a ameaça e pudesse reclamar para si os louros desse triunfo. Hoje, aparece mesmo aos olhos do mundo como grande fornecedor de material médico indispensável à luta contra a pandemia. As autoridades chinesas admitem, no entanto, que ainda se registam alguns casos de infecção do coronavírus, mas faz questão de realçar um pormenor: estes casos seriam todos importados. Dá a impressão de que um país que se preze não pode ser responsabilizado pela produção do vírus.
Já o presidente norte-americano viu-se obrigado a dar uma grande cambalhota. Depois de reagir com demasiada displicência ao aparecimento do vírus, teve de se confrontar com o fenómeno de uma enorme disseminação que colocou seu país no epicentro da crise, isto numa extensão que está ainda longe de se conhecer, embora os seus números divulgados sejam já aterradores. No entanto, e como bom populista que é, Trump aproveita a crise para ir responsabilizando os outros, incluindo os seus aliados europeus, em termos que já não espantam.
Num tempo em que a solidariedade se apresenta como uma necessidade imperativa, quer no combate à epidemia propriamente dita, quer no combate aos seus efeitos devastadores na área da economia, é difícil imaginar que o país mais poderoso do mundo se possa alhear desta tarefa comum e que opte por uma política isolacionista de que será também uma das grandes vítimas.