Covid-19: a Missa pela internet, oportunidade e desafios

Foto: José Luís Catvalho

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Com a inédita impossibilidade de celebrar com a comunidade reunida na sua «igreja», assistimos ao generalizar-se de um fenómeno que os novos meios de comunicação pela Internet com as suas «redes» tornou possível: a transmissão de celebrações litúrgicas com a ajuda destes meios de comunicação telemática, em direto. Há pontos em comum e diferenças assinaláveis entre estas emissões e as já habituais transmissões radiofónicas e televisivas.

Recordemos que os grandes meios de comunicação rádio-televisiva, emitindo em canal aberto, não podem selecionar os destinatários, sendo sempre possível uma receção, mais ou menos ocasional, à margem de um contexto mínimo de fé, prestando-se a inconvenientes não desejados e incontroláveis: burla, desprezo, profanação… Já em 1959 o teólogo Karl Rahner lembrava este princípio importante: os atos pessoais mais íntimos e o sagrado não se devem exteriorizar diante de quem não esteja preparado nem disposto para participar neles de forma igualmente pessoal e com ressonância íntima. Há um risco real na exposição sem resguardo do que a Igreja tem de mais íntimo e precioso.

Entre nós e noutros países de tradição cristã, a Igreja tem aceitado correr esse risco em favor daqueles dos seus filhos legitimamente impedidos de se deslocar à igreja para participar na celebração das suas comunidades: doentes, idosos, pessoas que lhes prestam cuidados, pais com filhos pequenos, etc. Agora porém, a situação é bem diferente, quer do ponto de vista dos destinatários quer do ponto de vista do meio.

Destinatários, agora são todos! Por «todos» entendemos os fiéis «praticantes» que de domingo a domingo acorrem às nossas igrejas (e pena é que não sejam «todos» os batizados que ainda se declaram «católicos»). Neste tempo de exceção «todos» estamos confinados ao nosso domicílio e as igrejas não podem ser frequentadas pelos seus habituais «fregueses» (filii ecclesiae > filigrês > freguês = filho da igreja, cristão batizado em determinada igreja…). A todos é proposto que, nas suas casas se recolham em oração e se unam espiritualmente às celebrações da sua comunidade; como «remedeio» e bem possível, é sugerido/recomendado que, recorrendo a «meios» antigos ou novos, se «conectem» com alguma celebração teletransmitida. Os «meios» disponíveis permitem a «comunhão» possível: intencional, espiritual e, nessa medida, real!

Há uma imensa novidade nos «meios». As novas redes telemáticas que a INTERNET permitiu estruturar facultam algo de inédito: não já conectar-se com uma Eucaristia celebrada na igreja selecionada pelos canais radiofónicos e televisivos, sabe-se lá onde, mas antes com a celebração realizada na sua própria – «minha»/nossa – Igreja! Não se trata, simplesmente, de alimentar a fé e a esperança de modo individual e quase privado, acolhendo a Palavra e associando-se à Eucaristia celebrada «algures». Trata-se agora de se manter «ligado» à sua «igreja» local, de manter o contacto com a sua comunidade de fé. E isto é muito importante porque a Igreja não é uma s.a.r.l. mas um mistério de comunhão que se vive em comunidades, todas em rede, constituindo no seu todo a «una, santa, católica e apostólica»!

Temos de reconhecer humildemente: não estávamos preparados para este desafio. Estamos a improvisar, aqui melhor, ali nem por isso… Os meios à disposição das nossas paróquias e comunidades são muito limitados e as nossas transmissões nunca poderão competir em qualidade com as realizadas pelos canais televisivos. Em geral, dispomos apenas de uma câmara para o vídeo que, por isso, se limita a um só plano mais ou menos aproximado; e a qualidade do som emitido, frequentemente, por um só microfone, também está longe das perfeições da «alta fidelidade» e outros requintes a que estão habituados os nossos ouvidos. Temos de convidar os nossos fiéis a aprenderem a lição da humildade na pobreza dos nossos meios e a dar valor, substantivo e eminente, ao conteúdo mistérico e teândrico que por eles pode ser veiculado. E os pastores da Igreja, sem descuidar os meios, têm de se focar, sobretudo, nesse conteúdo.