Mensagem (70): Sustentações

Quando me mandaram fazer um curso rápido na Universidade de Freiburg im Breisgau, também me indicaram o local da residência: um «velho» lar académico, dirigido por religiosas.

Toquei à campainha e logo me chamaram a atenção dois dados: um São José que, estrategicamente colocado à frente da porta, presidia às entradas e saídas; e os sapatos enormes, descomunais, da Irmã que me recebeu com largos sorrisos e intermináveis boas-vindas, a mim que, aflito, não sabia como responder-lhe, pois não conhecia uma palavra em alemão.

Com o passar dos dias, vim a saber muitas coisas. Que a Irmã Stanislaus era de origem polaca, mas alemã pelo coração. Ali trabalhara sempre. No tempo da guerra, consagrou o lar a S. José. E o que é verdade é que nunca precisou de fechar, mesmo quando a cidade foi destruída. Que nenhum aluno foi atingido pelos bombardeamentos e sempre houve de comer. Que, por vezes, tinha de «chamar a atenção» a S. José. Mas, quando não havia nada na despensa, aparecia sempre, à porta, um saco de batatas. Claro que o almoço, nesse dia, era batatas com batatas. Mas era almoço.

Ficou-me sempre isso na memória. E, agora, confronto com as grandes figuras da Igreja, mormente os Papas, e vejo a razão de ser: S. José é uma inquebrável âncora no Céu que sustem esta frágil embarcação, a terra dos homens. Por isso, o Papa Francisco chama-lhe, carinhosamente, “O solucionador”; Bento XVI apelidava-o de “Pai silencioso e solícito”; João Paulo II rezava todos os dias por sua intercessão e escreveu sobre ele uma exortação apostólica, “O Guarda do Redentor”; Paulo VI nutria especial devoção pelo “Homem dos riscos”; e João XXIII, quando foi eleito, escolheu o nome papal de… José, embora não lho «deixassem» usar porque, por respeito, nenhum Papa tinha adotado os nomes de José e de Pedro.

A Irmã Stanislaus, curvada ao peso dos seus oitenta anos e à solicitude de não se sentir bem se não via os seus «meninos» felizes, afinal apoiava-se nas duas grandes bases de sustentação que deveriam ser apanágio de todo o crente: nuns sapatos gigantescos, expressão de uns pés bem assentes na realidade do mundo, e em São José, o telefone do outro lado da linha, certeza de que os nossos pedidos chegam ao «seu filho» Jesus.

Neste tempo de aflições, pensemos nisto.

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