A evolução da pandemia do «covid-19», colocou-nos na situação inédita de celebrar a Eucaristia dominical sem reunir fisicamente a assembleia do Povo santo de Deus.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
É um grande sacrifício porque somos Igreja e «Igreja» quer dizer «assembleia», comunidade de pessoas que se reúnem respondendo à iniciativa de um Deus-Amor que veio ao nosso encontro, precisamente, para nos congregar na unidade, para nos reunir. Mas, perante o valor supremo da vida humana, o mandamento do amor que o nosso Mestre nos ensinou tem de nos predispor ao sacrifício de uma verdadeira «quarentena» em plena Quaresma, com a privação temporária de muitos encontros e, nomeadamente, deste que nos define e faz de nós Igreja: a Eucaristia dominical. É uma grande privação, um grande jejum, um deserto de fome e sede! Vamos vivê-lo com generosidade, como Povo de Deus rumo à terra prometida.
O Serviço Nacional de Liturgia da Conferência Episcopal Italiana, num subsídio oportunamente assumido pelo SNL português e disponível em www.liturgia.pt sublinha que esta situação inédita não implica «a impossibilidade de entrar em comunhão com o Senhor e o seu mistério de salvação». O Senhor continua a preparar para o seu povo a mesa da Sua Palavra que é também, e realmente, sacramento da Sua presença, como descobriu o Povo de Israel, no exílio, «sem profeta, nem chefe, nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem um local para oferecer as primícias e encontrar misericórdia» (Dan 3, 38). Não é essa, longe disso, a nossa situação. A Palavra – rezada, proclamada em família ou em pequenos grupos – é (como na grande assembleia) uma forma da presença real de Cristo à sua Igreja e proporciona uma possibilidade real de Comunhão com Ele e com os irmãos: Cristo «está presente na sua palavra, sendo Ele que fala quando na Igreja se lê a sagrada Escritura» (SC 7).
Além disso, recorda o mesmo subsídio, a oração, em particular a Liturgia das Horas, é também uma possibilidade real de nos unirmos a Cristo-Sacerdote que, «ao assumir a natureza humana, uniu a si toda a humanidade e a associou a si ao elevar ao Pai aquele hino de louvor perene cantado nas moradas celestiais» (cf. SC 83). Eis uma oportunidade para propor às famílias, recolhidas nas suas casas, a «oração pública e comunitária» da Igreja, a Liturgia das Horas que nos une de forma mais perfeita a Cristo e nos confirma na identidade indeclinável de sermos «Igreja orante», Esposa amada que jamais interrompe o diálogo com o Esposo. Cristo está realmente presente à sua Igreja quando ela reza e salmodia – ensina também SC 7. Há edições acessíveis da Liturgia das Horas mas a organização de cada Ofício requer iniciação. Hoje, porém, temos aplicações nos telemóveis que fornecem (quase sempre bem) a proposta da Oração da Igreja para cada dia. A App iBreviary, por exemplo, permite descarregar gratuitamente para o telemóvel os textos oficiais na versão portuguesa, além de disponibilizar as leituras da Missa de cada dia e orações variadas.
A nova situação deve ser vivida também como um apelo e desafio a valorizar e redescobrir (ou descobrir) o valor da «Igreja doméstica», Igreja-Família. As nossas casas são também um lugar sagrado onde se celebra a bênção, onde o diálogo entre os membros da família tem como fonte e cume o diálogo com Deus, a que chamamos oração. E oração não é só recitar fórmulas decoradas. É também escutar o que o Senhor nos diz na Sua Palavra. Eis uma ocasião para limpar o pó à Bíblia que temos na estante, de a abrir, de a deixar aberta na mesa ou na cómoda, de ler alguma passagem, nomeadamente o Evangelho de cada dia ou, pelo menos, o do Domingo… Eis alguns «sítios» para usufruir destes e doutros serviços: www.liturgia.pt; https://evangelhoquotidiano.org/PT/gospel; https://www.passo-a-rezar.net/…