O Líbano e a resistência dos cedros

O cedro é a árvore que identifica o Líbano e que, certamente por isso, tem lugar destacado na sua bandeira nacional. Estamos a falar de um pequeno país do Médio Oriente, com seis milhões de habitantes e dez mil quilómetros quadrados de superfície, mas com uma riquíssima história religiosa e cultural.

Por António José Silva

A sua independência ocorreu em 1943, quando a França abandonou aquele território de que tinha ficado responsável no fim da primeira guerra mundial. Desde então, o país conheceu uma história marcada alternadamente por períodos de paz e desenvolvimento, e por anos de guerra e violência. Em tempos de paz, e apesar do seu pequeno tamanho, o Líbano atingiu níveis de riqueza e desenvolvimento que justificaram que tenha sido chamada de Suíça do Médio Oriente, nome que se entende pelo facto de se tratar de uma terra de comércio e de serviços bancários, por excelência.

O cedro não é uma árvore exclusiva do Líbano, mas é nas suas montanhas que existe a mais extensa área da sua plantação. Trata-se de uma árvore de ressonâncias bíblicas, cuja altura pode atingir os quarenta metros e que se tornou símbolo de força e de perenidade. Não admira, pois, que tenha sido escolhida para figurar na bandeira do país e que seja motivo de orgulho para os seus habitantes.

Ao longo da sua história pós-independência, o povo do Líbano sofreu, demasiadas vezes, os efeitos da sua localização geográfica. Partilhando fonteiras com Israel e com a Síria, dois países sempre em foco na crise do Médio Oriente, o seu povo corre sempre o risco de sofrer as consequências dos conflitos que abalam aquela região do mundo, como aconteceu quando o Líbano se tornou pátria de acolhimento para milhares de palestinianos radicais e para a OP. Por causa das actividades desta organização, o seu povo teve de suportar os efeitos de violentas represálias de Israel que culminaram mesmo em duas invasões. Por outro lado, a sua fronteira com a Síria tornou mais apetecível o projecto de Damasco em ocupar também uma parte significativa do seu território.

Essas são páginas de uma história que já é de outro tempo, mas a verdade é que o Líbano ainda não encontrou a estabilidade que o seu povo procura e merece. Desde o ano transacto que os libaneses saem às ruas agora em protesto contra as condições de vida e para reivindicar transparência na governação. Tal como os cedros, este povo tem resistido a tudo, desde as divisões confessionais às invasões e às guerras civis. Mas será que a sua capacidade de resistência permanece?