Emergência sanitária e prevenção

Vive-se, um pouco por todo o mundo, uma situação de emergência sanitária que implica medidas de prevenção. Cabe-nos cooperar com as autoridades de saúde. Praza a Deus que tenham sucesso e que, pelo menos, se possa minorar a dimensão e a gravidade dos inconvenientes do atual surto epidémico.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

O Conselho Permanente da Conferência Episcopal tornou pública uma nota, no passado dia 2 de março, apelando à prudência nas celebrações e espaços litúrgicos. Em concreto recomendou-se: a retirada da água benta das pias à entrada das igrejas; a omissão do gesto da paz; a distribuição da comunhão aos fiéis na mão (e não na língua); a comunhão por intinção dos sacerdotes concelebrantes [e, acrescentemos, dos diáconos]; seria de recomendar também a omissão da comunhão sob as duas espécies aos demais fiéis. Aderindo cordialmente a estas recomendações de carater transitório, e com objetivo exclusivo de melhor esclarecer, permitimo-nos tecer aqui alguns comentários:

  1. O rito da paz

No Rito Romano, o momento da paz é parte integrante dos ritos de comunhão. Consta de três elementos, o terceiro dos quais é eventual e facultativo: a) a oração da paz («Senhor Jesus Cristo, que dissestes…»); b) a saudação da paz («A paz do Senhor esteja…») com a respetiva resposta; c) e, «se parecer (ou for) oportuno» (IGMR 154, 181) o gesto da paz, a convite do celebrante ou do diácono; com o mesmo sentido, uma rubrica do Ordinário da Missa condiciona o convite e consequente gesto da paz às «circunstâncias». Portanto, embora recomendada, a manifestação gestual com que os fiéis «exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e a caridade mútua, antes de comungarem no Sacramento» (IGMR 82) pode omitir-se.

A propósito, a IGMR prevê que sejam as Conferências Episcopais a determinar em concreto o sinal ou gesto com que se dá a paz, tendo em conta as variantes culturais: mentalidade e costumes (IGMR 82). O Ordinário da Missa prevê, simplesmente, que se observem «os costumes locais». À luz destes princípios, mais do que a omissão pura e simples do gesto da paz, deverá preconizar-se a suspensão temporária das modalidades desse gesto que impliquem contacto físico como o beijo, o abraço ou o aperto de mão. Mas nada impede uma gestualidade diferente que leve os fiéis a voltarem-se uns para os outros de forma cordial e até calorosa mediante acenos, sorrisos, inclinações… Que ninguém se dispense, no atual contexto de emergência sanitária, de exprimir aos seus irmãos «a comunhão eclesial e a caridade mútua», porque a Comunhão com Cristo é indissociável da Comunhão com os membros do Seu Corpo.

  1. A comunhão na mão

A Conferência Episcopal Portuguesa, em Nota Pastoral de 10 de Outubro de 1975, tornou pública a possibilidade de os fiéis comungarem recebendo a sagrada espécie na própria mão (ver Directório Litúrgico, n. 44: EDREL 2526). Em circunstâncias normais «esta maneira de comungar não deve ser imposta aos fiéis, pois a eles se deve deixar a escolha sobre a forma de receber a Eucaristia» (Ibid.). Mas, em circunstâncias de exceção, estando em causa valores tão altos como o da saúde e da vida, podem os Bispos determinar, em nome da justiça e da caridade, que se mude temporariamente o modo habitual de ministrar este Sacramento.

Recomendava a citada Nota Pastoral de 1975 que pastores e fiéis se preocupassem «em realizar o gesto de maneira digna e significativa»: «segundo a antiga tradição, o ministro colocará o Pão consagrado na mão do fiel, o qual comungará antes de regressar ao seu lugar, por não parecer conveniente que o faça enquanto caminha, devendo ter ainda todo o cuidado com os fragmentos que eventualmente se desprendam» (Ibid.).

Sugerimos que o comungante estenda para o ministro a mão esquerda, aberta e horizontal, apoiada na direita: nada de ir buscar, com os dedos em pinça, a hóstia consagrada. Para além do risco acrescido de a deixar cair por terra, desse modo não se significa suficientemente que não nos podemos apropriar do Corpo do Senhor mas tão somente recebê-lo, pobremente, humildemente, de mão aberta e estendida. Depois de responder «Amen» ao ministro que lhe apresenta o Corpo de Cristo, e de o receber na palma da mão esquerda apoiada sobre a direita, o comungante pode dar um ligeiro passo ao lado, para facilitar o acesso ao fiel que se lhe segue e, à vista do ministro, levará reverentemente o Corpo do Senhor à boca segurando-o com os dedos polegar e indicador da mão direita.