Mensagem (68): O mau exemplo

Quaresma interliga-se com confissão, quer porque a conversão passa pela graça da Penitência, quer porque ainda não foram abolidos os preceitos da Igreja de se “confessar, ao menos, uma vez cada ano” e de “comungar pela Páscoa da Ressureição”.

Além de pecados, para haver confissão, requer-se um penitente e um sacerdote. Como é óbvio. Sendo previsível que o primeiro esteja motivado por uma profunda atrição e um não menor propósito firme de emenda, que será de esperar do segundo?

Que seja portador de uma tal sensibilidade espiritual e psicológica que o leve a: não se substituir à consciência do penitente; não fazer perguntas desnecessárias; não exagerar em comentários acerca da gravidade do pecado nem a desvalorizá-lo; estar apto a dar um conselho sensato, se lhe for pedido; frisar a misericórdia divina e dar ânimo; usar de otimismo e fazer apelo à virtude da esperança.

O que não é nada fácil. Por isso, a partir da ordenação, a Igreja concede automaticamente ao Presbítero o poder da celebração da Eucaristia, o «Santíssimo» Sacramento. Curiosamente, reserva ao bispo a faculdade de conceder ou não a permissão de confessar (Cân. 969). É que esta é a função mais sensível e pode haver quem não compreenda a sublime dignidade de ser «ponte» ou «pontífice» entre a «margem» de Deus e a do homem que o pecado separou. Nesse caso, tornar-se-ia um «torturador» das consciências, contratestemunho da misericórdia divina, negação de uma Igreja Mãe e acolhedora, usurpador da função de juiz. Ou até agente do maligno, ao afastar o pecador, porventura para sempre.

A respeito disto, o Papa Francisco conta um caso exemplar. Que conhecia um venerando sacerdote que passava horas e horas no trabalho mais duro e mais meritório, que é o da confissão. E que as pessoas faziam fila para ele as atender. No final, depois de tanta escuta, por vezes, vinham-lhe uns certos escrúpulos: “Será que eu não devia «ralhar» nos casos mais graves? Será que, sem uma reprimenda, não vou gerar a ideia de que já não há pecados mortais? Será que…”.

Era então que se dirigia ao sacrário, ajoelhava e fazia esta oração: “Olha, Senhor, não sei se devia ser mais duro. Mas não consigo. Aprendi contigo. Afinal, tu perdoaste a todos e nem sequer lhes fizeste um «sermão». Olha, este «mau» exemplo aprendi-o de Ti”.

Claro. De Jesus só se aprende uma coisa: perdão. Jamais reprimendas desnecessárias e sempre contraproducentes.

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