Batismo: mudar o paradigma

Foto: João Lopes Cardoso

Em ano pastoral focado no Batismo – referimo-nos ao plano pastoral da Diocese do Porto – a Quaresma não podia deixar de ser valorizada particularmente na sua vertente batismal-catecumenal.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia 

De facto, ao falarmos de Batismo, é bom que nos habituemos cada vez mais a pôr no primeiro plano da nossa atenção a iniciação cristã como um todo. Porque, se considerarmos o «batismo» de forma isolada, de acordo com a prática “ainda” generalizada (mas cada vez menos!) do batismo das crianças («párvulos» ou «in-fantes») a prioridade pastoral não pode ser «batizar» mas sim «fazer cristãos». Já observava Tertuliano (séc. II-III) – e não mudou – que não se nasce cristão…

Ultrapassado inexoravelmente o “regime de cristandade”, nesta nossa sociedade secularizada (secularista?) e relativista, a prática ritual do Batismo dos pequeninos, só por si, não assegura suficientemente a sua “iniciação cristã”. Por isso, mal vamos de prioridades se nos contentamos com batizar crianças. Dirão que essa é a conversa da raposa que diz que as uvas estão verdes porque não lhes chega… Venham elas e venham muitas (as crianças a batizar porque, quanto às uvas, o tempo ainda é de poda)! Mas são cada vez menos: das poucas que nascem são cada vez mais as que não são trazidas ao Batismo; e das que são batizadas são cada vez mais as que depois são privadas da consequente (?) educação cristã que lhes permita crescer de forma saudável na vida nova que lhes é dada de forma tão incondicional mas que está seriamente ameaçada de raquitismo, atrofia e morte. Não é a conversa da raposa que não chega às uvas porque ainda há demasiadas uvas, como é patente perante o desastre desta «maternidade irresponsável» que já se adivinhava à partida… As uvas estão mesmo verdes!

Em nome de um falso conceito de acolhimento que não se preocupa com as motivações (ou falta delas) de quem pede o Batismo, omite-se a proposta evangélica do Kerygma (que começa com o apelo à metanoia) e escondem-se as exigências e implicações do Batismo para quem o pede e/ou recebe. Não: a prioridade não pode ser «batizar» párvulos (e, pior ainda, tratar como párvulos e batizar como párvulos crianças em idade escolar, jovens e adultos!). A prioridade tem de ser «fazer cristãos». Paulo, no início da missão, tinha a ordem das prioridades pastorais bem definida: «Cristo não me enviou a batizar, mas a evangelizar…» (1 Cor 1, 17).

Por isso, aqui fica o convite a abrirmos o Ritual da Iniciação Crista dos Adultos [RICA] para fazermos do Batismo – mas integrado no grande Sacramento da Iniciação Cristã – uma prioridade pastoral válida. Há de ser a partir deste novo paradigma que a renovação chegará também à prática sacramental mais generalizada que herdamos da cristandade e de que não nos podemos eximir. Estamos na Quaresma, direcionados para a Páscoa. Demos atenção aos Preliminares específicos deste Ritual:

«Uma vez que a iniciação cristã não é senão uma primeira participação sacramental na morte e ressurreição de Cristo, e dado que o tempo da purificação e iluminação coincide normalmente com o tempo da Quaresma e a “mistagogia” com o tempo pascal, toda a iniciação deve revestir carácter pascal. Por conseguinte, a Quaresma deve conservar o seu vigor em ordem a uma preparação mais intensa dos eleitos, e a Vigília pascal deve ser tida como o tempo legítimo da iniciação cristã» (RICA 8).

«A iniciação dos catecúmenos faz-se à maneira de uma caminha­da progressiva, dentro da comunidade dos fiéis. Esta, juntamente com os catecúmenos, medita no valor do mistério pascal e renova a sua própria conversão; e deste modo, com o seu exemplo, leva-os a seguirem generosamente o Espírito Santo» (RICA 4).

«O catecumenado é um tempo prolongado» (RICA 19). Mas a sua duração «depende quer da graça de Deus quer de várias circunstâncias» (RICA 20). «O Ritual da iniciação acomoda-se ao caminho espiritual dos adultos, caminho diferente consoante a multiforme graça de Deus, a livre cooperação de cada qual, a acção da Igreja e as condições de tempo e de lugar» (RICA 5).