Morreu há dias, na cidade do Cairo, o antigo presidente egípcio, Hosni Mubarak. Tinha noventa e um anos e foi presidente daquele país durante trinta, um longo período de liderança incontestada durante a maior parte desse tempo, mas gravemente atribulada nos seus últimos anos de chefe de estado.
Por António José da Silva
Mubarak era um prestigiado militar quando ascendeu ao mais alto cargo político do país, a quando do atentado que vitimou o presidente Anwar al Sadat .A partir de então, e até 2011, governou o estado mais populoso e politicamente mais importante do Médio Oriente, conseguindo manter, com maior ou menor dificuldade, uma política de equilíbrio surpreendente, face aos desafios levantados pelo contencioso histórico entre Israel e a maioria dos países árabes. E não obstante as tentativas da Rússia, nunca pôs em causa a sua relações históricas com o Ocidente e, particularmente, com os Estados Unidos.
Foi então, quando o seu longo consulado dava já sinais de alguma fraqueza e iam crescendo aas acusações de corrupção que envolviam a sua própria família, foi então que surgiu na Tunísia um movimento social e político que passou à História como Primavera Árabe, uma nova” estação” do calendário politico cujos efeitos se estenderam também ao Egipto Foi aliás neste país que essa “Primav1era” teve a sua expressão mediática mais visível com a realização continuada de manifestações contra o regime, sobretudo as que tinham lugar na famosa Praça de Trahir. Com a ajuda dos próprios miliares, a nova temperatura política atingiu um grau tão elevado que Mubarak se viu obrigado a deixar o poder, o que aconteceu no princípio de Janeiro de 2011.
A primeira consequência da chegada desta “primavera” ao Egipto foi a realização de eleições presidenciais que foram vencidas por Mohamed Morsi, um homem respeitado que, embora nunca tenha feito alarde de qualquer ligação oficial à Irmandade Muçulmana, não podia negar uma certa aproximação à ideologia islamita de um grupo que tinha fama de radical e parecia incapaz de aceitar as regras do pluralismo religioso e político. Verdadeira ou não, esta acusação acabou por minar a confiança de grande parte dos egípcios no novo governo saído daquela revolução pacífica e, particularmente, a confiança dos militares que continuavam a ter um papel decisivo nos destinos do país. Morsi tinha pois o destino traçado: foi obrigado a deixar o poder. Desta vez, os militares não correram o risco de convocar novas eleições, nem mesmo para disfarçar aquilo que realmente foi um golpe de estado. E aqui fica a breve história de uma primavera que não chegou a florir…