
Por vezes, o futebol constitui um bom motivo para tomar conhecimento de alguns pormenores referentes à situação política que se vive em países que participam em competições internacionais.
Por António José da Silva
Está neste caso, a recente deslocação do Sport Lisboa e Benfica à Ucrânia, para ali defrontar, no âmbito da liga europeia de futebol, um clube que dá pelo nome Shakthar Donetzk. Foi uma deslocação que permitiu a muitos consumidores dos “Media” tomar conhecimento ou actualizarem os seus conhecimentos sobre aquele país.
A primeira constatação que resulta da realização deste encontro de futebol é a de que o jogo não se disputou no estádio original daquele clube ucraniano que se situa em Donetzk, mas sim em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, situada a 300 quilómetros daquela. Tudo porque o recinto desportivo onde deveria ter lugar o encontro foi construído numa área do país onde, há já bastante empo, se vive num cenário de guerra civil. Trata-se de um conflito que foi despoletado pelas tentações separatistas que, entretanto, eclodiram no leste da Ucrânia, na sequência de outras manifestações que tiveram lugar, com o mesmo objectivo, na península da Crimeia, onde acabaram por ser coroadas de êxito.
Neste caso, o resultado foi a perda para a Ucrânia deste importante e estratégico espaço do seu território, uma perda à qual a maioria dos países ocidentais reagiu inicialmente de modo forte e negativo. Tendo e conta o envolvimento de Moscovo em todo o processo, foram muitas e geralmente negativas as reacções à anexação daquela península por parte da Rússia. Hoje, pode dizer-se, no entanto, que o episódio desta anexação está praticamente esquecido, já que pouca gente se manifesta agora contra o modo como um país livre e independente pode ser amputado de uma parte do seu território.
Acontece que também no caso dos movimentos separatistas que estão em curso no leste da Ucrânia, território conhecido genericamente por Donbass, parece inegável a influência de Moscovo. O facto de uma parte significativa dos seus habitantes serem russófonos justifica e amplia essa influência que vai aumentando à medida que crescem os problemas internos na Ucrânia, como vem acontecendo nos últimos anos. De tal maneira que não falta quem faça ou aceite cada vez mais a acusação de que a Rússia participa cada vez mais visivelmente nas movimentações de apoio aos movimentos separatistas no leste da Ucrânia, mesmo que essa participação não seja de todo oficial. Uma coisa parece certa: tal como aconteceu com a Crimeia, tudo indica que a Ucrânia venha a sofrer mais uma amputação.