Domingo II da Quaresma

8 de Março de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Génesis                                                                   Gen 12,1-4a

«Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 32 (33)

Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.

 

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo            2 Tim 1,8b-10

«Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça».

 

Aclamação ao Evangelho

Louvor a Vós, Rei da eterna glória. Repete-se

No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:

«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O»

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 17,1-9

«Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte

e transfigurou-Se diante deles ».

«Senhor, como é bom estarmos aqui!».

 

Viver a Palavra

A vida cristã envolve a vida toda e toda a vida e o convite à conversão que se torna mais incisivo neste tempo quaresmal recorda-nos precisamente que a conversão exige uma transformação do coração e da vida que chegue a todos os âmbitos da nossa acção. A conversão não é apenas uma adesão intelectual à proposta de Jesus Cristo, nem um conjunto de boas intenções para a prática de boas obras, mas o encontro decisivo com Jesus que nos faz entrar na dinâmica sempre nova de conformar a nossa vida com a Sua vontade.

No nosso itinerário quaresmal, o segundo Domingo da Quaresma irrompe luminosamente, apresentando Jesus sobre o monte com Pedro, Tiago e João. Assim como estes três discípulos foram escolhidos e chamados, também nós, somos convocados pelo amor misericordioso de Jesus que gratuitamente nos escolhe para nos fazer experimentar a luz nova que só o Seu amor e Sua graça nos podem oferecer. Assim nos testemunha S. Paulo, escrevendo a Timóteo e recordando-lhe a livre, gratuita e generosa acção de Deus nas nossas vidas: «sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça». Deste modo, agradecidos pelo dom generoso da vida divina que nos é concedida para lá das nossas boas obras, somos convidados a conformar a nossa vida com este mistério de amor que nos inquieta, desinstala e coloca a caminho. Partir é palavra de ordem para quem encontra em Jesus o sentido da sua vida.

Jesus não se detém nem nos detém, mas envia-nos: «levantai-vos e não temais». Como é importante recordar aqui o convite dirigido por Deus a Abraão para deixar a sua terra e a sua família. Mais importante ainda porque Deus não lhe indica uma meta geográfica mas apenas a certeza da sua presença: «vai para a terra que Eu te indicar». Se é o Senhor Deus que lhe vai indicar o caminho, então Ele caminhará com Ele, estará com Ele para o guiar, proteger e defender. Por isso, Abraão parte confiado na palavra do Senhor, ainda que humanamente tivesse razões para desconfiar, pois a promessa de Deus é de fazer dele uma grande nação e oferecer-lhe uma inúmera descendência, mas Abraão e sua mulher Sara são de idade avançada. Todavia, «Abrão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado» e a promessa de Deus realizou-se para nos testemunhar a certeza que quando somos capazes de abandonar os nossos comodismos, as nossas certezas fundadas apenas nas nossas capacidades humanas e nos abrimos à livre, gratuita e generosa iniciativa de Deus a nossa vida se torna lugar de bênção que difunde ao longe e ao largo o suave perfume da ternura e da bondade do Pai.

Neste Domingo subimos com Jesus ao Monte e como Pedro, Tiago e João somos chamados a contemplar a luz nova que brota da Sua presença no meio de nós. Aos discípulos é antecipada a luz nova da Páscoa que será plena e definitiva na manhã da Ressurreição. Na narrativa que nos apesenta S. Mateus surpreende-me sempre a experiência que os discípulos fazem de Jesus. Eles contemplam Jesus resplandecente como o sol e com vestes brancas como a luz. Vêm Moisés e Elias e a nuvem luminosa. Escutam a voz do Pai e são tocados por Jesus que os desafia a colocar-se ao caminho. É curioso que apenas a narrativa da Transfiguração no Evangelho de Mateus nos oferece este pormenor de Jesus que toca os seus discípulos. A experiência pascal de encontro com Jesus Cristo, experimentada por antecipação no episódio da transfiguração, convida-nos a contemplar, a ver, a escutar, a ser tocados, a caminhar, isto é, convida-nos a uma transformação da vida toda, implicando todos os sentidos e desafiando a uma conversão cada vez mais total e totalizante das nossas vidas.

 

Homiliário patrístico

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Séc. V)

O Senhor manifesta a sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo faz resplandecer o seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que o seu rosto se torna brilhante como o sol, e as suas vestes brancas como a neve. A principal finalidade desta transfiguração era fazer desaparecer do coração dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada, não perturbasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo. Mas, segundo um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido à esperança da Igreja, de modo que todo o Corpo de Cristo pudesse conhecer a transfiguração com que ele também seria enriquecido, e os seus membros pudessem contar com a promessa da participação daquela glória que primeiro resplandecera na Cabeça.

Sirva, portanto, a proclamação do santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido. Ninguém tenha medo de sofrer pela justiça, ou desespere da realização das promessas, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte à vida. O Senhor fez sua a debilidade da nossa humilde condição, e se permanecermos no seu amor e na confissão do seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu. Por isso, quer se trate de cumprir os mandamentos ou de suportar a adversidade, há de ressoar sempre aos nossos ouvidos a voz do Pai, que assim se fez ouvir: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência: escutai-O.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O dia 8 de Março em que se celebra o II Domingo da Quaresma é dedicado pela sociedade civil à celebração do Dia Internacional da Mulher. Enquanto comunidade eclesial que habita o tempo e a história e procura iluminar os diversos âmbitos da vida humana, a Igreja não deve ficar à margem da comemoração deste dia. Cada comunidade pode pensar um modo criativo de assinalar este dia. A mulher assume um papel fundamental na sociedade e na vida da Igreja e este dia pode ser a ocasião para o reconhecer e valorizar. Contudo, como recorda o Papa Francisco na sua recente exortação pós-sinodal Querida Amazónia, é necessário pensar o lugar da mulher na Igreja sem o reduzir ao funcionalismo, mas no horizonte da corresponsabilidade eclesial onde cada um tem lugar na edificação da comunidade e na acção evangelizadora da Igreja.

 

  1. Para os leitores: a brevidade da primeira leitura não deve fazer descurar a sua preparação com uma atenção especial aos verbos no futuro que constituem a promessa de Deus a Abraão. Mais do que uma ordem, os verbos no imperativo constituem uma proposta que Deus faz a Abraão. A segunda leitura, tal como é habitual no epistolário paulino, apresenta frases longas que requerem uma especial atenção nas pausas e respirações.

Sugestões de cânticos

Entrada: Eu vos procuro, Senhor – F. Santos (ENPL XXXVII); Salmo Responsorial: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia (Sl 32) – M. Luís (CN 419); Aclamação ao Evangelho: Louvor a Vós, Rei da eterna glória | No meio da nuvem luminosa… – F. Santos (BML 35); Ofertório: Attende, Dómine (CN 222); Comunhão: Jesus tomou consigo – F. Silva (CN 563); Este é o meu Filho muito amado – F. Lapa (CN 431); Final: Do abismo em que vivo – F. Santos (CN 375).