Responsabilidade social?

Esta é uma história muito caraterística na nossa sociedade – e não só no nosso país -, existem empresas a praticar o que dizem ser “responsabilidade social”.

Por Joaquim Armindo  

A história, verdadeira, resume-se a que uma empresa de grande distribuição que acaba de oferecer equipamento aos bombeiros da sua zona. Aos seus trabalhadores paga o salário mínimo, de seiscentos e poucos euros, porque é obrigada por lei. Quer estar aberta ao domingo e não pagar as horas suplementares aos trabalhadores com as percentagens prescritas em legislação. Podem-me dizer que é ação filantrópica, eu diria que são ações de promoção pessoal à custa do trabalho mal pago aos trabalhadores. Com 635 euros, menos os impostos para a segurança social, que esses trabalhadores devem descontar, não chega aos 600 euros, o que “levam” para suas casas, para o transporte, renda de casa, os seus filhos, os seus medicamentos e outras despesas que bem sabemos quais são. É miserável hoje um salário mensal que não seja digno, e para tal com menos de 1 000 euros ninguém vai lá!

Não sou sindicalista, mas podia ser, para ver que estamos perante uma ameaça de “uma economia que mata”. Mata e mata aos bocadinhos, por isso se vão forjando homens e mulheres, que depois para a sua reforma receberão 300 ou 400 euros, mensais, ou até menos. Como não pode a dignidade da pessoa humana ser afetada? Uma cultura do desgaste está impregnada na sociedade a tal ponto que faz com que a resignação seja o quotidiano, e o “ser pobre”, o que é inevitável. Por isso o agradecimento contínuo aqueles que exercem sobre si a “promoção pessoal”. Uma cultura que não torna possível a dignidade humana é uma carnificina, é o exercício de uma “morte assistida durante a vida”. No seu sonho social para a Amazónia o papa Francisco, refere que a abordagem ecológica, deve integrar sempre a justiça para ouvir o clamor da Terra e dos pobres, o clamor daqueles e daquelas que ainda são “colonizados” nas tantas “Amazónias” que existem, aqui, também, em Portugal.

Não estou em nada contra a oferta aos bombeiros, mas pugno pelo pagamento digno aos trabalhadores, porque a responsabilidade social, começa em “casa” de quem a quer praticar. De resto são farolins de veículos de alta cilindrada, deslocados sobre a vida dos mais frágeis dos pobres e dos oprimidos, que de tão oprimidos já aceitam tudo.

O nosso Jesus não aceita isto!