“Todos aqui renascemos”: caminhada diocesana da Quaresma à Páscoa 2020

Foto: Vatican News

 

 

  1. UM PREFIXO A RETER

 

O prefixo «re», de regeneração ou renascimento, evocado pelo nosso Bispo, Dom Manuel Linda, no Pórtico ao Plano Diocesano de Pastoral, inspira-nos a retomar a ideia da caminhada anterior, com o mote “Todos aqui nascemos”, para oferecer agora a proposta de um caminho batismal e quaresmal, que nos conduza à celebração da Páscoa, sob o lema “Todos aqui renascemos”.

 

Aliás, o tempo já vivido na caminhada anterior, que nos levou à celebração cristã do mistério do Natal, não nos faz esquecer que a encarnação redentora do Filho de Deus é já início da Páscoa de Cristo. O abaixamento de Deus, que veio até nós, deposto no berço da nossa humanidade, é apenas o início daquela descida que levará Cristo à mansão dos mortos, para daí nos levantar e ressuscitar com Ele.

 

A ideia de «renascer», de regenerar, de renovar, de reconduzir à luz da fé, aplica-se agora, com toda a propriedade, a este tempo favorável da Quaresma, que é caminho e iniciação à Pascoa, e por isso, tempo primaveril de “renascer”, seja pela celebração dos sacramentos da iniciação cristã, seja pela renovação das promessas batismais, seja por uma radical conversão de vida, que nos permita alcançar o perdão dos pecados e uma vida nova, para assim chegarmos de coração purificado à celebração do mistério pascal de Cristo (cf. Orações de Bênção das Cinzas).

 

Por isso, este prefixo “re”, de renovação da vida (Bar 3,2), acompanhar-nos-á da Quaresma à Páscoa, de vários modos: renunciar (1.º domingo), revestir (2.º domingo), renovar (3.º domingo), reconhecer (4.º domingo), reviver (5.º domingo), reinar (domingo de Ramos) e ressuscitar (domingo de Páscoa).

 

Esta linha de continuidade permite-nos manter o foco batismal, usando a mesma imagem ou símbolo da videira, a partir da alegoria inspiradora de todo este ano pastoral “Como os ramos na videira”.

 

Sugerimos que esta videira (se possível, a mesma usada na caminhada do Advento ao Batismo do Senhor) permaneça junto do Batistério ou, de algum modo, em ligação com ele. Isso mesmo recordar-nos-á a vida nova do homem novo, que é “como árvore plantada à beira das águas, dá fruto a seu tempo e a sua folhagem não murcha” (Sl 1, 3; Jr 17,8). Ou então, se for mais conveniente, a videira poderá colocar-se junto à Cruz (ou em volta dela) ou próxima do altar. A significação é clara: o Batismo e os demais sacramentos brotam como a água e o sangue, do lado aberto do Senhor (cf. Jo 19,34), como frutos preciosos da árvore da Cruz. Semana a semana, poderá colocar-se junto da videira algum elemento significativo, sendo preferível não os acumular sucessivamente, pois a Quaresma é tempo de despojamento, sobriedade e austeridade. também nos sinais.

 

 

  1. UMA RADICAL OPERAÇÃO DE LIMPEZA

 

Na alegoria da videira, Jesus faz referência a duas ações do Pai, o Agricultor: “Ele corta todo o ramo que não dá fruto em Mim e limpa o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 1-2). Os dois verbos usados têm a mesma raiz e sugerem-nos uma verdadeira e radical operação (corte) de limpeza. Esta alegoria da videira e a ação do Pai permite-nos aproveitar e aplicar aos exercícios espirituais e às finalidades da Quaresma a imagem da poda, que, segundo os entendidos, é também diversa na sua ação e na sua finalidade.

 

  1. Poda de formação: é executada nos primeiros anos de vida da planta. Visa garantir uma estrutura forte e equilibrada, com ramos bem distribuídos.

 

Não esqueçamos que os recém-batizados recebem o nome de “neófitos”, que significa “plantazinhas” e que esta planta frágil carece de cuidados, para poder crescer de modo ordenado e frutificar como se espera. O Batismo não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo. Podemos dar esta finalidade às catequeses e celebrações quaresmais e, em geral, a todos os nossos exercícios espirituais da Quaresma: revigorar a própria fé.

 

  1. Poda de frutificação: tem por fim uniformizar e melhorar a frutificação, controlando o excesso de vegetação da planta, que levaria a uma diminuição da qualidade da fruta e ao envelhecimento precoce das árvores.

 

O objetivo do jejum e da abstinência quaresmais também é este: “libertar-nos dos excessos, reprimir os vícios e elevar o espírito” (cf. Prefácio da Quarema IV), de modo que “no combate contra o espírito do mal, sejamos fortalecidos com o auxílio da temperança” (Oração coleta da 4.ª feira de Cinzas). Trata-se de uma penitência, que visa dar beleza e qualidade espiritual à nossa vida cristã.

 

  1. Poda de rejuvenescimento: destina-se a reativar a produtividade perdida.

 

Trata-se na vida dos cristãos e das comunidades de identificar os nossos “podres”, para cortar o que realmente impede de frutificar. Podem ajudar nessa tarefa os diversos escrutínios catecumenais que nos põem “cara a cara” (3.ª semana) “olhos nos olhos” (4.ª semana), “frente a frente” (5.ª semana) com Cristo. A celebração da Reconciliação, como “segundo Batismo” pode perspetivar-se nesta dimensão do “rejuvenescimento” e do “renascimento” da própria vida batismal.

 

  1. Poda de limpeza: é uma poda leve e simples, que se processa anualmente nos pomares e a qual consiste na retirada de eventuais ramos doentes quebrados, secos, mal localizados. É, assim, uma poda sumária, em que se fazem pequenos cortes na abertura da copa, para existir um certo arejamento no interior da árvore e um bom desenvolvimento dos frutos.

 

Para os cristãos trata-se de limpar o interior, de purificar o coração, para que a Palavra de Deus frutifique. Se Jesus nos diz “vós já estais limpos por causa da Palavra que vos anunciei” (Jo 15,3), nunca será de mais insistir nesta ação de limpeza, que o contacto e familiaridade com a Palavra de Deus nos proporciona. O exercício da Lectio Divina dos Evangelhos dominicais da Quaresma é um precioso contributo. Disporemos, a tempo, no site da Diocese, de algumas propostas neste sentido.

Façamos dos exercícios quaresmais uma espécie de operação radical de poda (d)e limpeza, de despoluição interior, de modo a reviver a frescura da água, a recobrar a transparência da luz, a provocar a regeneração da nossa vida e graça batismais. As sugestões práticas de cada semana ajudam-nos a reciclar» as propostas tradicionais da Igreja para este tempo (Oração, jejum, esmola) tendo em conta a realidade social e cultural dos nossos dias, mas sem esvaziar o sentido da penitência.

 

III. UM CAMINHO BATISMAL DE RENOVAÇÃO CRISTÃ

 

Nos domingos da Quaresma, e de forma muito particular no ano litúrgico A, somos levados a viver um itinerário batismal, percorrendo um caminho semelhante ao dos catecúmenos, que se preparam para celebrar os sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia.

 

Ora, para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus?

 

As leituras dominicais da Quaresma, no ciclo A, são tomadas precisamente da tradição antiga, que acompanha o catecúmeno na descoberta do Batismo: são o grande anúncio do que Deus faz neste sacramento, uma magnífica catequese batismal dirigida a cada um de nós.

 

Em ordem a uma melhor compreensão integrada dos Domingos da Quaresma até à Páscoa, tenha-se sempre presente a linha dos Evangelhos:

 

  1. Cristo batizado é tentado na sua condição filial e sai vitorioso (Domingo I).
  2. Cristo é confirmado na sua condição e missão filiais na Transfiguração (Domingo II).
  3. Cristo promete a Água da Vida (Domingo III).
  4. Cristo dá a Luz (Domingo IV).
  5. Cristo dá a Ressurreição (Domingo V).
  6. Cristo, Servo de Deus, é humilhado e exaltado (Domingo de Ramos na Paixão do Senhor).
  7. Cristo é sepultado, morto e ressuscitado.

 

Percorramos, em síntese, as etapas do caminho da iniciação cristã, sobretudo a partir dos Evangelhos dominicais, tendo em vista novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele, segundo este itinerário: renunciar (1.º domingo), revestir (2.º domingo), renovar (3.º domingo), reconhecer(4.º domingo), reviver (5.º domingo), reinar (domingo de Ramos) e ressuscitar (domingo de Páscoa). Cada um dos sete verbos pode ser colocado, semana a semana, nos diversos ramos da videira.

 

1.ª semana da Quaresma: Renunciar

 

O Evangelho do 1.º domingo oferece-nos a cena das Tentações de Jesus e a Sua vitória contra o mal. É possível vencer o pecado. É contínua, para todos nós, a necessidade de renúncia ao pecado e aos falsos deuses. Impõe-se-nos uma decisão ou opção por Cristo. Apresenta-se aqui a imagem do batizado como alguém que está sempre sujeito às provações e tentações. Mas, unido a Cristo, como os ramos na videira, o cristão sairá vencedor.

 

  • Palavra-chave: Renunciar.

 

  • Colocar um dos destes elementos ao pé da videira: cinzas | terra | areia | caixa (de esmolas) para a renúncia quaresmal.

 

  • Sugestões batismais: Tem lugar, para os catecúmenos, o Rito da eleição e inscrição do nome. O Evangelho sugere-nos a valorização da “renúncia”, em perspetiva batismal. Para os batizados, importa “atualizar”, em linguagem nova, as fórmulas da renúncia ao homem velho. Esta semana recordamos isto: vivo o meu Batismo nas escolhas concretas da minha vida. Cada vez que renuncio a uma vida pagã e realizo uma opção, segundo Jesus Cristo, quer nas grandes escolhas da vida, quer nas pequenas decisões do dia a dia, faço-o na força ativa do meu Batismo.

 

  • Sugestões práticas: Deve ser dado a conhecer o destino diocesana da renúncia (partilha) quaresmal e o lugar onde o entregar. Pode propor-se, em família, a elaboração de um pequeno programa quaresmal, escolhendo a dose certa para tomar “os remédios do pecado”, a saber “o jejum, a oração e o amor fraterno” (cf. Oração Coleta do 3.º domingo da quaresma). Concretizar: jejum e abstinência (de que coisas?); oração (em que tempos e modos?); amor fraterno (a partilha de quê, de quanto e com quem?).

 

2.ª semana da Quaresma: Revestir

 

O Evangelho do 2.º domingo coloca-nos diante da cena da Transfiguração de Jesus, onde se nos oferece o protótipo do nosso destino pascal de transformação e de vida. Perspetiva-se aqui o Batismo, como sacramento da fé e da filiação divina. A simbologia das vestes brancas, lida em perspetiva batismal, recorda-nos que, pelo Batismo, somos revestidos de Cristo (Gl 3,27). Desde o início da Quaresma, somos desafiados, não tanto a rasgar as nossas vestes (Jl 2,13), mas os corações. De facto, acontece, muitas vezes, que apenas mudamos de vestes, mudamos a roupagem exterior, mas continuamos a ser e a viver como dantes (cf. Papa Francisco, Discurso à Cúria Romana, 21.12.2019).

 

  • A Palavra-chave: Re

 

  • Colocar ao pé da videira: veste batismal.

 

  • Sugestões batismais: O Evangelho da Transfiguração, ao revelar-nos Jesus, revestido de vestes brancas, cheio de luz, oferece-nos a possibilidade de recordar e reviver o rito batismal da imposição da veste branca. Para os já batizados, e para os que hão de sê-lo, este é o domingo, para saborearmos a beleza e a dignidade de filhos de Deus! Peçamos ao Senhor que nos lave do pecado e nos deixe revestir com a veste branca do nosso Batismo! Poderia ser sugerido, sobretudo às crianças, que ainda tiverem a sua veste branca, que a tragam para a celebração. O ato penitencial deste domingo pode fazer eco deste símbolo da dignidade cristã, desafiando a purificar a mente, o coração e a vida, para a “manter imaculada até à vida eterna”.

 

  • Sugestões práticas: Nesta 2.ª semana da Quaresma, saibamos oferecer companhia a Deus, na oração prolongada, e companhia aos outros, numa visita mais demorada. A cena da “tenda” onde se dá a transfiguração pode fazer-nos ir ao encontro dos sem-abrigo ou das pessoas que vivem sós. Poderá sugerir-se ainda a partilha de roupa em bom estado, a partilhar com os mais pobres ou para reciclar, sendo o retorno aplicado aos mais pobres. Esta partilha tem lugar no rito da apresentação dos dons (ofertório).

 

3.ª semana da Quaresma: Renovar

 

No Evangelho do 3.º domingo, no colóquio com a Samaritana, Cristo revela-Se água viva que sacia a sede da humanidade. Perspetiva-se aqui o Batismo, como sacramento da conversão e da purificação e da “renovação do Espírito Santo” (Tit 3,5). O símbolo batismal é claramente o da água que dessedenta e sacia, purifica e renova a vida. Somos chamados a voltar à fonte, a sair do poço e a recuperar esta frescura original do Evangelho e da vida cristã.

 

  • Palavra-chave: Re

 

  • Colocar ao pé da videira: cântaro ou ânfora.

 

  • Sugestões batismais: Tem lugar, para os catecúmenos, a celebração do 1.º escrutínio, como experiência forte de quem se coloca “cara a cara” com Cristo. Durante a semana, faz-se a Entrega do Símbolo da Fé. Nesta semana, os batizados devem “agitar” as águas do Batismo, de modo a que não se tornem «águas passadas» que já não movem a vida; antes se tornem uma fonte de uma energia, que renova a vida, em cada dia. No final da celebração os fiéis podem ser convidados a levar do cântaro, colocado junto à videira, um pouco de água, para com ela, em casa, fazerem alguma oração ou algum gesto em memória do Batismo. Pode dar-se um sentido missionário a este gesto: “Quem não tem fé não mata a sede! Mas quem tem a graça de a ter, está ligado a uma tarefa enorme: dar desta água bebida um testemunho ao longo de toda a sua vida” (Erri di Luca). Em comunidade, por que não participar num momento de leitura e meditação do Evangelho deste domingo, junto ao batistério? Pode concluir-se este momento de oração com a Oração da Bênção da Água (cf. Ritual do Batismo, n.º 54) e a aspersão da mesma.

 

  • Sugestões práticas: Valorizar a água e o pão simples, em detrimento das bebidas doces, dos refrigerantes, ou dos bolos e da comida plástica. Deste modo, poderemos apurar o sentido do sabor, e estaremos mais despertos, para ter fome de Cristo, Pão da Vida, e mais preparados para ter sede de Cristo, rochedo de Água Viva, para a vida eterna! Em família, à volta da água, podemos fazer o sinal da cruz e uma oração. Envolver a comunidade na iniciativa «24 horas para o Senhor», que tem lugar na sexta-feira e no sábado anteriores ao 4.º domingo da quaresma (este ano, a 20 e 21 de março).

 

4.ª semana da Quaresma: Reconhecer

 

No Evangelho do 4.º domingo, Cristo revela-Se como Luz que ilumina o nosso caminho. O cego de nascença vai alcançando um progressivo (re)conhecimento de Jesus, uma progressiva aproximação à luz da fé: para o cego, aquele que o curou é primeiramente um Homem chamado Jesus; depois é o Rabbi (Mestre), de seguida é o Enviado; chega a ser reconhecido como Profeta e como Alguém que vem de Deus, até confessar que acredita no Filho do Homem, reconhecendo-O como seu Senhor. Conhecer é aqui «con-nascer», é como que um segundo nascimento, de modo que, conhecendo a Cristo, a sua vida não é mais a mesma. Perspetiva-se aqui o Batismo, como sacramento de iluminação. A fé aparece como uma nova visão, “um caminho do olhar, em que os olhos se habituam a ver em profundidade(cf. Papa Francisco, Lumen Fidei, n.º 30). A fé faz-nos ver com outros olhos, faz-nos ver tudo de novo; ela dá-nos um coração que vê.

 

  • Palavra-chave: Rec

 

  • Colocar ao pé da videira: círio pascal ou vela(s) do Batismo.

 

  • Sugestões batismais: Tem lugar a celebração do 2.º escrutínio: o encontro com Cristo que, com a sua Luz, põe a descoberto as obscuridades do ser humano. Durante a semana, faz-se a entrega do Pai-Nosso aos catecúmenos. Nesta luz nova, vemos a luz. O milagre da cura do cego de nascença é o sinal de que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz». Nesse sentido a celebração quaresmal da Reconciliação não deve ser vivida como uma «desobriga», mas como “reconhecimento” do pecado e da graça, como “revisão” de vida, experiência de Luz e de Verdade, em que toda a história pessoal é vista e revista, sob a luz da graça e da misericórdia de Deus. Uma das formas de “revisão de vida” é a prática do Exame de consciência, que deve ser ensinada e recomendada.

 

  • Sugestões práticas: A cena do cego a pedir esmola, pode levar-nos a realizar uma oferta em dinheiro, ou em géneros, a alguma família carenciada, em colaboração com algum grupo da pastoral sociocaritativa, acompanhando o gesto de algum momento de oração breve. Em família, sejamos capazes de renunciar a um dia sem televisão ou outros meios tecnológicos, para acender a vela do Batismo e fazer um bom exame de consciência.

 

5.ª semana da Quaresma: Reviver

 

No Evangelho do 5.º domingo, Cristo revela-Se como Vida verdadeira, no sinal da ressurreição de Lázaro. À luz do Evangelho da ressurreição de Lázaro, o Batismo é regeneração, mistério de morte e vida. O cristão desce às profundidades do sepulcro com Cristo e deixa morrer nele o homem velho. Atira para trás o medo da morte e aceita esse outro morrer, ressuscitando. Neste Sacramento do Batismo realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, torna-se participante da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11), segundo a promessa de Ezequiel: “Infundirei em vós o meu espírito e revivereis” (Ez 37, 14). Este Espírito, que ressuscitou Jesus de entre os mortos, “dará vida aos nossos corpos mortais” (Rm 8,11). A fé é dom gratuito que deve ser reavivado sempre em cada um de nós.

 

  • Palavra-chave: Re

 

  • Colocar ao pé da videira: lençol ou ligaduras.

 

  • Sugestões batismais: Tem lugar a celebração do 3.º escrutínio que põe o homem, frágil e mortal, frente a frente com Cristo, Ressurreição e Vida. Durante a semana, faz-se a Entrega da Oração Dominical (Pai-Nosso). Para os batizados, nesta semana é importante, que cada um se coloque, como pobre mortal, diante deste Cristo, morto e ressuscitado, e corresponda ao Seu desafio provocador: «sai para fora do teu túmulo, onde tantas vezes apodrece a tua vida: o egoísmo, a rotina, a autossuficiência, o comodismo, a resignação, o desânimo»… É destes túmulos que Jesus nos quer tirar para nos fazer reviver! Aos batizados sugere-se rezar e meditar o Pai-Nosso, como exercício de consciência batismal.

 

  • Sugestões práticas: A cena da morte e ressurreição de Lázaro, podia levar-nos a um encontro com uma pessoa doente ou família enlutada. Poderíamos oferecer um lenço, com uma mensagem de esperança. É desafiante conhecer os doentes do meu lugar, do meu bairro, do meu prédio… Como proposta comunitária, pode sugerir-se a Visita e Oração num Hospital, num Centro de saúde, a uma casa familiar onde haja uma pessoa doente. Pode também fazer-se algum exercício da Via Sacra. Convidem-se os padrinhos a receber o seu “ramo” dos próprios afilhados no próximo domingo.

 

Semana Santa: Reinar

 

No Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, Cristo é aclamado, na Sua entrada triunfal em Jerusalém, como Rei e Redentor. Porém, é no dom de Si mesmo na Cruz que a sua realeza se afirma e que se realiza a nossa redenção. A proposta para esta semana é esta: deixarmos Cristo reinar, tornando-Se Ele mesmo o rosto da nossa atração, o centro do nosso coração e da nossa vida. A oração de Bênção dos Ramos faz inclusão com a nossa proposta inicial e permanente nesta Quaresma: “para que permaneçamos unidos a Ele e demos fruto abundante de boas obras”.

 

  • Palavra-chave: Re

 

  • Colocar ao pé da videira: ramos de oliveira.

 

  • Sugestões batismais: Se houver catecúmenos, a sugestão do RICA é que, nos casos onde for possível reunir os eleitos no Sábado Santo, a fim de se prepararem, no recolhimento e na oração, para receberem os sacramentos, se proponham os ritos da Redição do Símbolo (RICA 194-199), do Effathá (RICA 200-202), da escolha do nome cristão, se tal for costume (RICA 203-205) e da unção com óleo dos catecúmenos (RICA 206-207). Sendo este domingo, “o dia dos padrinhos” poderá valorizar-se a presença destes na celebração, acompanhado os seus afilhados. Nunca é de mais acentuar a importância nuclear, para todos os fiéis, das celebrações do Tríduo Pascal, que está para o Ano litúrgico como o Domingo para a semana. Não é conveniente que outras propostas pastorais se sobreponham ou concorram com as celebrações do Tríduo Pascal.

 

  • Sugestões práticas: Para que estas celebrações do Tríduo Pascal não sejam «engolidas» pelas férias da Páscoa, importa criar alguns dinamismos que estimulem a participação, sobretudo dos catequizandos, atribuindo-lhes funções e lugares próprios nas diversas celebrações: no lava-pés, na adoração eucarística, na celebração da Paixão, no exercício da via-sacra, na organização da Vigília e da Visita Pascal. Eis apenas alguns exemplos de motivação e envolvimento: convidar os catecúmenos a tomar parte no rito do lava-pés, como uma espécie de lavagem preparatória para o grande lavacro do Batismo, para a celebração do Crisma e para a Sua participação plena da mesa eucarística; convidar as crianças, que vão fazer a primeira comunhão, a participar na Missa da Ceia do Senhor, atribuindo-lhes algumas funções; convidar os catequizandos do 6.º ano (que têm este ano a sua Profissão de Fé) e os demais fiéis a trazer as suas velas do Batismo, para a Vigília Pascal; propor aos adolescentes do 8.º ano (que terão, em breve a sua Festa da Vida) a participação no rito da adoração da Cruz; algum dos grupos pastorais ou de catequese pode ser responsabilizado pelo fornecimento de lenha de videira, para o rito do lume novo na Vigília Pascal; por que não envolver os jovens e crismandos na Visita Pascal?…

 

Noite, dia e tempo de Páscoa: Ressuscitar

 

Na Vigília Pascal e no dia de Páscoa escutamos o anúncio da Ressurreição, a partir dos relatos das aparições do Ressuscitado. Fixemo-nos sobretudo na Vigília Pascal. Reforcemos a importância e culminância da Vigília Pascal e a sua ligação com os Sacramentos da Iniciação Cristã. A Páscoa tem o seu ponto alto na celebração da Vigília Pascal, com as Liturgias da Luz, da Palavra, do Batismo e da Eucaristia e, em tantos casos, com a celebração dos sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia. Importa fazer desta noite a ocasião propícia, por excelência, para a renovação das promessas batismais. De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Batismo.

 

  • Colocar ao pé da videira: Um enxerto.

 

  • Sugestões batismais: A força pascal do Batismo está bem clara na leitura do Apóstolo, na Vigília Pascal: “Todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6,1.4). Na mesma Carta aos Romanos, São Paulo alude à imagem do “enxerto” na “boa oliveira” (Rm 11,24), e que podemos aplicar à videira. É importante viver a Vigília Pascal como momento por excelência para a celebração do Batismo, do Crisma e da Eucaristia, e para a renovação das promessas batismais. O tempo pascal é o tempo propício à mistagogia. Que as celebrações da Eucaristia, os encontros com os batizados e as várias Festas da Catequese, que ocorrem maioritariamente em tempo pascal, sejam também elas oportunidade de redescoberta da graça do Batismo e dos outros sacramentos da iniciação cristã.

 

  • Sugestões práticas: O fogo do lume novo pode fazer-se a partir de ramos resultantes da poda das videiras, que precisamente por não permanecerem na videira, são cortados, atirados fora, lançados ao fogo e ardem (cf. Jo 15,6). Sugerimos ainda que os fiéis, tanto quanto possível, tragam, para a Vigília Pascal, as velas do Batismo ou que a comunidade ofereça a possibilidade de adquirir uma vela, com a data ou algum motivo batismal. Para a visita Pascal, podia ser interessante oferecer a cada família uma cruz com varas de videira.