Vladimir Putin comunicou recentemente ao povo russo e ao mundo a sua intenção de introduzir algumas mudanças na estrutura constitucional do seu país. Apesar de inesperada, a notícia não surpreendeu de todo a opinião pública, já que na nova Rússia as alterações constitucionais já são um hábito, sobretudo na parte final dos mandatos presidenciais.
Por António José da Silva
Os problemas internos da Federação Russa não interessam particularmente aos observadores da vida política internacional, porque todos sabem que as eventuais mudanças que possam acontecer não vão alterar em nada os grandes princípios em que assenta a política do Kremlim. Sob a liderança do partido comunista, esta política teve sempre a marca de uma imobilidade que atingiu o seu pico no tempo de Estaline, mas que foi plenamente recuperada, em estilo diferente, por Vladimir Putin. O recente anúncio de próximas mudanças não provocou, portanto, qualquer sobressalto na opinião pública. Tudo vai continuar na mesma, embora com uma roupagem diferente.
O actual presidente russo é um homem dotado de grande habilidade política. Formado nos cânones do antigo KGB, foi catapultado para o Kremlin por Boris Ielsin, a troco da garantia de que nem ele nem a sua família seriam incomodados pelos novos ventos que sopravam na Rússia. A sua formação ideológica não impediu que se centrasse no apagamento do já velho e gasto partido comunista e na criação de um novo partido que fosse capaz de aglutinar a maioria do povo à volta de um novo líder que seria ele próprio. Esse novo partido, que passou a chamar-se “Rússia Unida”, teria dois objectivos principais; reconquistar para o país o estatuto de superpotência que havia perdido na sequência colapso do império soviético, e fomentar entre o povo russo o tão criticado sonho da riqueza. Foram dois objectivos, quase plenamente alcançados, pelo menos enquanto o petróleo e o gaz jorraram abundantemente e o seu preço parecia chegar para a reconquista daquele estatuto e para a reposição das regalias sociais que mantêm um povo feliz.
Os russos habituaram-se a seguir o chefe e não vão contestar, certamente, as decisões de um líder que recuperou para o seu povo o orgulho nacional perdido e parte das regalias sociais dos primeiros tempos da Rússia soviética. Essas decisões, cujos pormenores não se conhecem totalmente, não fazem antever, para já, alterações significativas nem no sistema político que regula a sua vida, nem na política externa do país. Uma ou outra alteração já conhecida ainda poderá surpreender, como é o caso da substituição de Medvedev, mas para a maior parte dos observadores, trata-se apenas de mudanças para a continuidade.