
O Coro da Sé Catedral do Porto foi fundado em 1 de março de 1971, sob a iniciativa e orientação do Padre António Ferreira dos Santos, regressado da Alemanha onde tinha realizado formação avançada em Música sacra, e mais tarde designado membro do Cabido e mestre capela da Sé do Porto.
Por M. Correia Fernandes
Nesse mesmo ano foram restaurados os dois órgãos históricos da capela mor da Sé do Porto, com apoio da Fundação Gulbenkian. Voz Portucalense relatava o acontecimento em 19 de junho desse ano, registando as palavras do Bispo do Porto, de reconhecimento à Gulbenkian, não apenas pelo restauro dos órgãos, mas também por “tudo o que a Fundação tem feito, nesta nossa terra, em relação com os interesses espirituais da Igreja”. O primeiro concerto foi executado pelo organista Antoine Sibertin-Blanc (1930-2012).
Um programa delineado para execução entre 2020 e 2021 pelo Coro da Sé para dar sentido amplo e aberto à celebração dos seus 50 anos, inicia-se nesta próxima semana Santa, em 10 de abril, Sexta Feira da Paixão, com a apresentação da “Paixão segundo São João” do Cónego António Ferreira dos Santos.
Estas comemorações desenrolam-se ao longo dos anos 2020 e 2021, culminando em 2 de abril de 2021 com a apresentação d “Paixão segundo São Mateus”, de J. S. Bach (1685-1750), na Sexta Feira Santa de 2021, em 2 de abril do próximo ano. Esta “Paixão”, obra máxima da História da Música, redescoberta por Felix Mendelssohn (1809-1847), que a fez ouvir em Berlim, em 1829, através de uma cópia do se manuscrito original, e que estava, na época, quase esquecida. Para a apresentação no Porto em 2021 o Coro da Sé teve já encontros com o maestro alemão Martin Lutz, que transmitiu orientações através de uma “master class” para a sua interpretação.
Um pouco da história significativa
Desde a sua fundação o Coro da Sé Catedral do Porto tem desenvolvido uma permanente atividade de interpretação e apresentação de música sacra, seja acompanhada com instrumentos, seja cantada “a capella”, seja em concertos instrumentais ou concertos corais sinfónicos , e tem desempenhado um papel relevante na valorização destas duas dimensões da arte dos sons: a dimensão musical, pelo aperfeiçoamento da apresentação vocal, e a dimensão da música sacra e litúrgica, em que se tornou modelo de ação. A sua primeira apresentação pública teve lugar em 4 de maio de 1971, no Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social. As suas atuações mereceram habitualmente destaques na imprensa da época.
Lembramos que o Coro da Sé do Porto esteve na origem do lançamento e realização do Grande órgão de tubos da Sé (1985), que se tornou um modelo de um conjunto de órgãos novos e restauro de órgãos históricos na diocese do Porto; revelou na cidade e região do Porto obras fundamentais da história da música coral e coral sinfónica, a partir de um projeto inicial de revelação dos autores portugueses dos séculos XVI a XVIII (que conduziu a uma atenção a estes autores por parte de escolas europeias, revelando nomes como Manuel Cardoso, Manuel Mendes, Pedro de Cristo, Rodrigues Esteves), contribuído para o desenvolvimento da música coral e litúrgica. É notável o seu trabalho de apresentação de obras cimeiras da história de música: o Magnificat, a Paixão segundo S. João e a Oratória de Natal, de J. S. Bach, além de várias das suas cantatas e a sua grandiosa Missa em Si Menor (em duas épocas apresentada), a oratória “Israel no Egipto”, de J. F. Haendel (1750-1759), O Requiem de Mozart e várias missas, entre as quais a Missa em Dó menor; o “Requiem Alemão” de J. Brahms (1833-1897), a oratória “A Criação” de J. Haydn (1732-1809) e a oratória “Paulus” de F. Mendelssohn, o “Te Deum” de Brukner (1824-1896).
O Coro da Sé teve os seguintes maestros: António Ferreira dos Santos, fundador; Eugénio Amorim; de novo Ferreira dos Santos; e a partir de 2015, Tiago Ferreira, atual maestro.
A contribuição para a valorização da música litúrgica, a promoção de futuros autores, como os hoje consagrados Fernando lapa e Fernando Valente, o estímulo à formação e aperfeiçoamento de coros paroquiais em todas as regiões da diocese do Porto, a proposta e orientação para a construção e restauro de órgãos de tubos em toda a diocese são alguns dos seus méritos relevantes. Lembramos o grandioso encontro de coros no jubileu do ano 2000, os concertos anuais por altura da Páscoa de anos sucessivos (na região do Porto e em Braga), e os diversos festivais de órgão em toda a região do Porto.
Próximas realizações
O Coro da Sé, no dizer dos seus responsáveis (o Presidente da Direção, Miguel Simões e o maestro Tiago Ferreira) salientam que o seu projeto é de continuidade, da construção de um coro em caminhada e ação, desenvolvendo um trabalho de aprofundamento e aperfeiçoamento na interpretação da música sacra, quer a tradicional quer a de novas composições; querem promover a música sacra “com sentido”, que os intérpretes membros do coro saibam o que estão a transmitir e o que significa a sua ação, buscando a valor da ligação à catedral, e a consciencialização do sentido da sua missão.
Projetam a criação de um “Coro de pequenos cantores”, projeto em elaboração a desenvolver ao longo deste ano de preparação das comemorações em 2021, visando também a atração de novos intérpretes em ordem à continuidade do coro. Louvam a dedicação dos membros atuais do coro, procurando para todos um novo entusiasmo.
A próxima apresentação da Paixão segundo S. João, de A. Ferreira dos Santos (a executar na Sexta feira Santa deste ano de 2020) dará início a um conjunto de iniciativas ao longo do ano, que conduzirão á apresentação, na Sexta feira Santa de 2021 da “Paixão segundo S. Mateus”, de J. S. Bach, que já se encontra em preparação, através da formação dos membros para uma interpretação segura desta obra maior da história da música.
A “Paixão segundo São João”, de Ferreira dos Santos, já foi anteriormente foi apresentada, mas mereceu uma segunda versão por parte doa autor. É esta segunda versão que o coro da Sé, com solistas e a orquestra do Atlântico (dirigida pelos maestros José Ferreira Lobo e António Pinho) que será apresentada na no Porto, dando início solene às comemorações dos 50 anos do Coro. Será depois repetida na igreja matriz de Penafiel, por ocasião da celebração dos 450 anos da cidade e dos 250 anos do foral que lhe foi outorgado.
Outro projeto em estudo é a realização de um Festival de Coros da Diocese do Porto, a promover em 2021.
O Coro da Sé possui medalha de mérito cultural da Ministério da Cultura e a medalha de ouro da Câmara Municipal do Porto.
Voz Portucalense, que sempre tem dedicado atenção à ação do Coro da Sé, augura que este ano de preparação de aniversário, seja produtivo para bem da afirmação da fé e da cultura que ela transmite.