
Da janela da minha cama, vejo os jardins do palácio do vaticano.
Por Joaquim Armindo
A minha cama, o quarto de banho, a barbearia, os locais onde posso estar em segurança, fazem-me acreditar neste bispo que vem da Argentina e que em vez de construir um bom hotel neste local, que, sem dúvida, daria proventos substanciais às finanças do Vaticano, resolve abrir esta autêntica suite aos homens e mulheres que vivem na rua. Olho para toda esta beleza que meus olhos contemplam e fico a pensar como é possível que a Igreja de Jesus, o Senhor morto e ressuscitado, atendendo ao que tenho visto, faça deste local, uma autêntica igreja dos sem abrigo. Ninguém me perguntou o nome, nem donde era, nem se era católico ou cristão, e abriram-me as portas dum reino que pensava não existir mais. E, agora, que venho da rua, e nela vou continuar, exceto o dormir, o barbear, o lavar a roupa e o comer, o que para mim é um dom, como será o Reino que o papa Francisco prega com atos e ações concretas e determinantes. Olho as flores à volta, e não é que também fico florido, com o sabor desse Jesus que Francisco tem no coração!
O papa Francisco tomou uma decisão e importante, estar ao lado das finanças ou dos que mais sofrem; olhou para os dois défices e escolheu superar um deles, o défice dos que não têm abrigo, abriu as portas do palácio e alojou os sem abrigo, que só dão prejuízo financeiro. Ficou de um dos lados, talvez imprudentemente, porque vai contrair dívidas ou então usar dinheiro destinado a outras necessidades bem conhecidas. Talvez se tenha lembrado daquela frase de Jesus sobre os passaritos, que voam e o Pai do Céu provê ao seu alimento. Qualquer mente prudente não faria isso, um bom hotel no local, alugados os quartos que talvez dessem, um dia, para estender a mão caridosa aos sem abrigo. Escolheu a opção mais difícil que se traduz em não esperar e socorrer quem se encontra na valeta. O resto, o resto, então não confiámos no Espírito do Senhor?
Agora sou eu a lembrar-me de tantas instalações das igrejas, em todas os sítios do mundo, que em vez de se fixarem no financeiro, bem poderiam – enquanto o estado o não fizesse -, ser o amparo de quem dorme na rua. Sim, sim, também no Porto.