Estados Unidos: um desafio aos politólogos

Nos últimos três anos, a vida política nos Estados Unidos tem sido fértil em factos mais ou menos surpreendentes, e alguns deles pouco dignificantes, como quele que ocorreu no Congresso há poucos dias.

Por António José da Silva  

O primeiro desses factos terá sido, certamente, a eleição de Donald Trump para a chefia do estado e do governo daquele país. Surpreendente, porque, num estado onde a liberdade de imprensa e o pluralismo da Comunicação Social constituem pedras basilares no processo democrático, é difícil perceber como é que a maior parte dos eleitores levou para a Casa Branca alguém que muitos consideravam não ter as qualidades humanas, intelectuais e morais suficientes para ocupar um dos cargos de maior responsabilidade que um homem pode assumir. No entanto, apesar de toda a campanha mediática desfavorável que enfrentou, Donald Trump venceu as eleições, dando inicio a um novo capítulo na política americana, um capítulo marcado pela preocupação de apagar as grandes linhas da política interna e externa do seu antecessor. Barak Obama

No entanto, mais difícil de perceber ainda é o facto de Trump ter chegado a poucos meses de uma nova eleição presidencial, numa altura em que que cresce o receio de que ele possa ganhar outra vez. Significa isto que todas as acusações e críticas de que foi objecto, dentro e fora dos Estados Unidos – e que os eleitores americanos devem conhecer suficientemente -. não chegam para ele ser derrotado. Trata-se de uma hipótese que, a concretizar-se, levantará muitas questões, a mais notória das quais deverá ser a que diz respeito precisamente ao verdadeiro peso da Comunicação Social numa eleição tão importante como esta.

Certamente que ninguém duvida de que esse peso possa ser decisivo nesta como noutras consultas, mas a história política ensina também que há mais factores a influenciar fortemente, a decisão dos cidadãos. Fala-se muito, por exemplo, do poder da oratória e da empatia dos candidatos, mas estas são características de que Donald Trump não é especialmente dotado. Então como se explica que ele possa resistir às consequências de tantos erros comportamentais e políticos?

Eis uma pergunta para a qual os chamados politólogos terão dificuldade em encontrar uma resposta unânime e convincente, mas tudo indica, na hipótese de ele vencer, que uma grande parte dos eleitores americanos se terá deixado seduzir não só pelo seu estilo populista mas, sobretudo, por alguns êxitos alcançados na área da sua política económica. Estes êxitos não serão suficientes para explicar tudo, mas parecem chegar para Donald Trump se convencer a ele próprio de que já é um herói da política americana.