
A Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2020 sublinha a necessidade de contar histórias boas. Evitando narrar intrigas e falsidade.
Por Rui Saraiva
No dia 24 de janeiro, memória litúrgica de S. Francisco de Sales, o Santo Padre publicou a Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que neste ano de 2020 se celebra a 24 de maio.
Foi o Papa Pio XI, em 1923, quem atribuiu a S. Francisco de Sales o título de Patrono dos jornalistas e dos escritores. S. Francisco de Sales, francês do século XVI, escrevia com elegância. Não feria ninguém. Escrevia e falava com delicadeza. Foi canonizado pelo Papa Alexandre VII em 1655 e declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX em 1877. Na sua memória litúrgica o Santo Padre publica uma mensagem especialmente dirigida aos meios de comunicação social.
Na Mensagem para este ano o Papa decidiu dedicar-se ao tema da narração. Chamou-lhe: «“Para que possas contar e fixar na memória”. A vida faz-se história». Francisco considera ser necessário “respirar a verdade das histórias boas”, aquelas que não desejam destruir, mas edificar. “Uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura” – escreve o Papa.
Descobrir histórias boas
Na sua Mensagem, Francisco concentra-se na necessidade humana de narrar histórias “para guardar a própria vida”. Histórias com heróis movidos pela “força do amor”.
Contudo, existe a tentação de narrar com o mal. Diz o Papa que é a “tentação da serpente” vertida na narrativa de uma história. “Quantas histórias nos narcotizam, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir. Quase não nos damos conta de quão ávidos nos tornamos de bisbilhotices e intrigas, de quanta violência e falsidade consumimos” – escreve Francisco.
O Papa refere que, frequentemente, na comunicação social “produzem-se histórias devastadoras e provocatórias”. Francisco assinala os tempos que vivemos com grande difusão de notícias falsas e pede “paciência e discernimento” para descobrir histórias que “tragam à luz a verdade daquilo que somos”.
A História das histórias
O Santo Padre recorda que a Bíblia é uma História de histórias que recolhe em si tantas “vicissitudes, povos, pessoas”. E revela “um Deus que é simultaneamente criador e narrador” que coloca o homem e a mulher como “livres interlocutores, geradores de histórias juntamente com Ele”.
“A Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição” – recorda o Papa assinalando que o título desta Mensagem para a comunicação social, «“Para que possas contar e fixar na memória”. A vida faz-se história», é retirado do livro do Êxodo, “narrativa bíblica fundamental que nos faz ver Deus a intervir na história do seu povo” – diz o Santo Padre.
Francisco sublinha que o “próprio Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias”. Segundo o Papa através das parábolas e narrativas de Jesus “a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e transforma-a” – escreve o Papa.
Histórias com amor e misericórdia
“A história de Cristo não é um património do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o homem, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer homem, carne e história” – diz o Papa na sua Mensagem.
Francisco afirma a “dignidade” das “histórias humanas”. De cada história humana. O Papa escreve citando S. Paulo: “Vós «sois uma carta de Cristo – escrevia São Paulo aos Coríntios –, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações»” (2 Cor 3, 3).
O Santo Padre exorta os jornalistas na sua Mensagem a colocarem amor e misericórdia nas histórias que narram:
“Quando fazemos memória do amor que nos criou e salvou, quando metemos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos a mudar de página. Já não ficamos atados a lamentos e tristezas, ligados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas, abrindo-nos aos outros, abrimo-nos à própria visão do Narrador” – escreve o Papa.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II através do decreto “Inter Mirifica” em 1963 e assinala-se no domingo antes do Pentecostes. Este ano a 24 de maio.