Má ideia, ou talvez não

Era então rapazito, lá para os meus dez anos, e a pé, e os outros meus amigos, atravessávamos os campos e chegava ao Monte da Virgem.

Por Joaquim Armindo

Aliás a rampa até dava para fazer o “prémio da montanha”, quando havia volta a Portugal. Em baixo ficava o hospital dos tuberculosos, dado o bom clima que emergia dos pinheiros e outras árvores que enchiam por completo toda a zona do Monte da Virgem. Chegávamos a subir a escarpa do Sardão, até ao cimo do monte, agarrados a árvores. Respirava-se ar puro. E havia tanta gente, crente ou não, que aproveitava os “bons ares”, para brincar e passar um bom dia com a família para aqueles lados. Era, e ainda é – apesar do movimento do agora hospital e Vila Este -, onde podíamos passear e cheirar ao som das árvores, dos bolinhos de bacalhau, do arroz levado num taxo, coberto de jornal para não arrefecer, claro que não faltavam os garrafões, tantas vezes para iludir os cansaços das semanas de trabalho de seis dias. No cimo a capelinha e a imagem,  podíamos ver Gaia e o Porto, e claro também o nosso Rio Douro. Agora também se avista o “dragon” (estádio do dragão).

Aqui há umas semanas atrás fomos alertados pelo senhor bispo do Porto e um jornal diário, da renovação de toda aquela área, dizia D. Manuel Linda que seria o segundo maior santuário, a seguir a Fátima. No jornal diário vinha uma antevisão do que seria toda a zona envolvente, com o apoio da câmara de Gaia. Se não derem uma machadada nas árvores, ficará bonito. Existirá um novo santuário e até um hotel nos Arcos do Sardão, com possibilidades de chegar ao cimo através de um pendular. Compreendo que para os poderes autárquicos, com o metro a chegar muito perto, seja um investimento que valerá a pena, até porque se trata de uma nova centralidade religiosa, o que levará as populações até a um lugar, de onde se vislumbra a criação, para além do acolhimento do santuário a construir e, certamente, da capelinha, que aí ficará.

Mas a minha ideia principal era se haveria possibilidades de começar a formar sem-abrigo, para o trabalho em toda a área, incluindo o santuário. E porque não umas casinhas para os sem-abrigo? Sempre trabalhavam e ganhavam o seu sustento. Se a ideia é má, não façam, se for boa, então mãos à obra!