A Preparação dos Leitores

Do «Domingo da Palavra de Deus» – um domingo para todo o ano – deveriam sobrar alguns propósitos. Porventura o prioritário poderia ser: preparar melhor os leitores e que estes preparem melhor a leitura-proclamação da Palavra de Deus.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Os Preliminares do Ordenamento das Leituras da Missa, que se podem ler no início do Leccionário, insistem na importância desta preparação para o bom desempenho do seu serviço à assembleia litúrgica. Recomenda o nº 52: «Procure-se que haja alguns leigos, dos mais idóneos, que estejam preparados para exercer este ministério». Uma das funções dos leitores instituídos, onde os haja, é precisamente preparar outros fiéis que, por encargo temporário, de forma ocasional ou habitual, são chamados à missão de proclamar a Palavra de Deus perante os fiéis reunidos para a celebração dos divinos mistérios (cf. Ibid., nº 51). Isso mesmo é recordado na IGMR (n. 101): «Na falta de leitor instituído, podem ser designados outros leigos para proclamar as leituras da sagrada Escritura, desde que sejam realmente aptos para o desempenho desta função e cuidadosamente preparados, a fim de que os fiéis, graças à audição das leituras divinas, inflamem o seu coração num afecto vivo e suave pela sagrada Escritura».

No nº 55, Os Preliminares acima mencionados, resumem o programa essencial desta preparação: «deve ser principalmente espiritual, mas é necessária a chamada preparação técnica». Logo se explicita que «a preparação espiritual pressupõe pelo menos a dupla formação, bíblica e litúrgica:

Formação bíblica «para que os leitores possam compreender as leituras, no seu contexto próprio e entender à luz da fé o núcleo da mensagem revelada»

Formação litúrgica, «para que os leitores possam perceber o sentido e a estrutura da liturgia da palavra e os motivos que explicam a conexão entre a liturgia da palavra e a liturgia eucarística».

Entretanto, OLM 55 recomenda igualmente a «preparação técnica», que «deve tornar os leitores cada vez mais aptos na arte de ler em público, quer de viva voz, quer com a ajuda dos modernos instrumentos de amplificação sonora».

Sejamos claros e honestos: uma formação séria dos leitores, que não negligencie nenhuma das 3 dimensões aqui mencionadas, exige tempo e amadurecimento. Não se compadece com pressas nem com improvisos. Por isso, a nossa Escola Diocesana de Ministérios litúrgicos tem um plano bem articulado que distribui por três anos os vários conteúdos desta formação essencial.

Mas, para além de preparação remota do Leitor, muito importa, igualmente, a preparação próxima da leitura. O leitor, preferentemente acompanhado pelo grupo de leitores da comunidade, tem de ser ajudado a identificar o género literário da leitura e a contextualizar o trecho que lhe cabe proclamar no conjunto mais amplo onde ele se insere: a Sagrada Escritura e a celebração concreta. Para que, pela sua mediação ministerial, a Escritura se transforme em Palavra Viva, o Leitor tem, em primeiro lugar, de fazer sua a Leitura: compreender todas as palavras e ideias do trecho, apropriar-se dos sentimentos e emoções que nele se exprimem, assimilar a mensagem que depois deve propor.

Uma atitude orante pode ser de grande ajuda, como está expressamente previsto para o ministro que proclama o Evangelho. Subjacente, está o episódio bíblico da vocação de Isaías (6, 1ss): perante a visão da glória do Senhor e da sua Santidade, o profeta – como hoje o leitor – sente de forma mais aguda a sua inadequação para missão tão importante: «Sou um homem de lábios impuros e moro no meio de um povo de lábios impuros» (Is 6, 5). Mas, antes de nos constituir como seus porta-voz, o Senhor purifica os nossos corações e os nossos lábios, como outrora fez com o seu profeta (Is 6, 6-7). Não se trata, como é óbvio, de inventar ou reduplicar ritos. Importa, sim, que o Leitor aborde o exercício do seu ministério com esta profunda humildade.