
9 de Fevereiro de 2020
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Isaías Is 58,7-10
«A tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar».
Salmo Responsorial Salmo 111 (112)
Para o homem recto nascerá uma luz no meio das trevas.
Leitura da primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 2,1-5
«Pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado».
Aclamação ao Evangelho Jo 8,12
Aleluia.
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor:
quem Me segue terá a luz da vida.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Mt 5,13-16
«Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo».
«Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».
Viver a Palavra
Como cristãos somos chamados a habitar o mundo em que vivemos, vencendo a globalização da indiferença, libertando-nos do nosso comodismo e testemunhando com ousadia a felicidade de viver com os olhos e o coração abertos sobre o mundo.
Dirigindo-se aos discípulos de outrora, Jesus interpela cada um de nós, discípulos de hoje, neste lugar e tempo concreto da história humana: «Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!». Jesus diz precisamente «vós sois» e não «vós deveis ser». Ser sal e ser luz fazem parte da nossa identidade cristã e devem moldar todo o nosso querer e agir. Bem sabemos que muitas vezes a nossa vida é insípida e opaca, mas no nosso coração Deus derramou o sal que transforma e dá sabor e a luz que dissipa as trevas e ilumina mesmo os recantos mais recônditos da nossa existência.
Somos chamados a ser sal que não perde a força e luz que não se esconde. Como discípulos missionários somos convocados para ser verdadeiros protagonistas na construção da civilização do amor, apontando sempre para Jesus Cristo, meta das nossas vidas e garante da eficácia da nossa missão não obstante a nossa fragilidade e pecado. Como Paulo, diante da missão que nos é confiada, somos tentados a dizer: «apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor e a tremer deveras». Contudo, devemos fixar o nosso olhar e a nossa atenção na confiança que Jesus deposita em cada um de nós: Ele conhecendo a nossa fragilidade e debilidade não hesita em fazer de nós sal e luz e faz das nossas vidas lugares luminosos e saborosos para que no mundo se possa saborear a misericórdia e a ternura de Deus e se possa contemplar a luz terna e suave do Seu amor. Não tenhamos medo da nossa fragilidade, nem tampouco deixemos que ela nos paralise. Escutemos o Papa Francisco: «prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças» (EG 49). Vencendo o comodismo, somos chamados a lançar-nos ao caminho, a ser sal e luz, a ser testemunhas criativas de que só o amor pode transformar o mundo num lugar melhor e mais feliz.
O sal é, antes de tudo, um elemento saído das águas do mar, respondendo ao luminoso apelo do sol. Assim, cada um de nós é chamado a ascender pela força atractiva da Luz divina. Mas como o sal que depois deve descer aos alimentos e dissolver-se neles para que discreta e humildemente possa dar sabor na medida certa e ajustada, também cada cristão é chamado a ser no mundo e para mundo um testemunho discreto mas eficaz do amor e da ternura de Deus.
A luz permite ver a realidade e os outros de um modo novo e diferente. Só Jesus é a Luz do Mundo, mas convocados pela sua palavra, somos chamados a irradiar no tempo e na história a luz terna e suave do Seu amor. Mas gosto de imaginar o nosso ser luz como um rasto luminoso que não encandeia aqueles com quem nos cruzamos mas que os conduz à fonte de toda a Luz que é Jesus Cristo. A primeira leitura que escutamos neste Domingo aponta de modo claro as condições necessárias para ser luz: abrir o nosso coração e a nossa vida aos que precisam de nós com gestos concretos de amor e misericórdia. Transportando na fragilidade do nosso barro o precioso tesouro que é «Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado», seremos um sinal saboroso e um rasto luminoso do amor de Deus, fazendo ecoar no tempo e na história a mais bela melodia da bondade e da ternura pela prática concreta e exigente das obras de misericórdia.
Homiliário patrístico
Dos Tratados de São Cromácio, bispo,
sobre o Evangelho de São Mateus (Séc. IV)
O Senhor chamou aos seus discípulos sal da terra, porque eles deviam condimentar, por meio da sabedoria celeste, os corações dos homens que o demónio tornara insensatos. E também lhes chama luz do mundo, porque, iluminados por Ele, que é a luz verdadeira e eterna, se tornaram também eles uma luz que brilha nas trevas.
O Senhor é o Sol de justiça; é com toda a razão, portanto, que chama aos seus discípulos luz do mundo, porque é por meio deles que irradia sobre o mundo inteiro a luz da sua própria ciência; com efeito, eles afugentaram do coração dos homens as trevas do erro, manifestando a luz da verdade.
Iluminados por eles, também nós passámos das trevas à luz, como diz o Apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; vivei como filhos da luz. E noutro passo: Não sois filhos da noite nem das trevas, mas sois filhos da luz e filhos do dia.
Por conseguinte, aquela lâmpada resplandecente, que foi acesa para nossa salvação, deve brilhar sempre em nós. Temos a lâmpada dos mandamentos de Deus e da graça espiritual, da qual afirmou David: O vosso mandamento é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos. E dela disse também Salomão: O preceito da lei é uma lâmpada.
Por isso é nosso dever não ocultar esta lâmpada da lei e da fé, mas colocá-la sempre no candelabro da Igreja para salvação de todos, a fim de gozarmos nós da luz da própria verdade e de serem iluminados todos os crentes.
Indicações litúrgico-pastorais
- No Evangelho escutado neste Quinto Domingo do Tempo Comum Jesus convida os seus ouvintes a serem verdadeiro sal e esplendorosa luz para que o mundo seja um verdadeiro lugar de louvor ao Pai pelas obras de bondade e misericórdia. Deste modo, este Domingo é uma oportunidade para convidar os cristãos a renovarem o seu compromisso de serem verdadeiros protagonistas da construção de um mundo mais justo e fraterno. Na celebração deste Domingo, na homilia ou até numa breve admonição antes do envio dos fiéis no final da celebração poderá recordar-se este compromisso cristão fundamental de nos nossos lugares de trabalho, nas nossas famílias e nos diversos ambientes onde somos enviados, sermos anunciadores do Evangelho de Jesus através de gestos concretos de amor e ternura.
- Para os leitores: a proclamação da primeira leitura deve ser marcada pelo tom exortativo que está presente em todo o texto. Na segunda parte do texto deve ter-se em atenção as diversas frases condicionais, aproveitando a expressividade que elas pretendem transmitir. Na segunda leitura, deve ter-se em atenção as frases mais longas e com diversas orações respeitando as pausas e respirações, articulando bem as diversas frases para uma clara compreensão do texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: Vinde, prostremo-nos em terra – A. Cartageno (CN 1007); Salmo Responsorial: Para o homem recto nascerá uma luz no meio das trevas (Sl 111) – M. Luís (SRML, p. 114-115); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu sou a Luz do mundo… – J. Roux (CN 54); Ofertório: Em Vós, Senhor, está a fonte da vida – Az. Oliveira (CN 401); Comunhão: Vós sois o sal da terra – C. Silva (CN 1027); Final: Louvado seja o meu Senhor – J. Santos (CN 586).