
No dia 27 de Janeiro de 1945, soldados do exército soviético entraram no campo de concentração de Auschwitz na Polónia, libertando os 7.500 prisioneiros que ali tinham sobrevivido ao sofrimento indizível a que foram submetidos, enquanto esperavam pela morte nas câmaras de gás. Isto, desde que o comando das forças alemãs decidira transformar as antigas instalações de um quartel de artilharia num campo de extermínio.
Por António José da Silva
A passagem da efeméride motivou múltiplas referências na Comunicação Social destes últimos dias, já que aquele campo passou à História como o símbolo mais dramático e expressivo do Holocausto ou da Shoah, como se diz em hebraico. Mais tarde, esse dia passou a estar oficialmente ligado ao fim desse Holocausto, o que não é totalmente exacto, porque a libertação de outros campos de extermínio só aconteceu dias ou semanas mais tarde, Seja como for, a ONU consagrou-o oficialmente como o Dia da Memória desses Campos da Morte.
A libertação de Auschwitz foi uma revelação profundamente traumática para todos aqueles, e eram muitos, que durante alguns anos, se recusavam a acreditar nas informações que, embora com muitas dificuldades, iam ultrapassando paulatinamente os muros desses campos. Mesmo habituados ao espectáculo da violência e da morte, muitos dos que entravam pela primeira vez naqueles campos não foram capazes de esconder o seu horror face ao inacreditável espectáculo que estavam a descobrir. Era o espectáculo do extermínio planificado de milhares de seres humanos, em nome de uma ideologia que consagrava a superioridade de uma raça e negava a outras, como a judaica, o direito a existir. A libertação de Auschwitz permitiu assim descobrir até que ponto pode descer uma comunidade humana que se considera a si mesma como superior às outras., nomeadamente a judaica.
Hoje, ainda nos perguntamos como foi possível a um povo, que deu ao mundo tantos homens e mulheres ilustres, ter escolhido e aplaudido vezes sem conta a liderança dum homem como Hitler. Ainda nos perguntamos hoje como foi possível que um povo com uma história cultural tão rica não tenha acordado muito mais cedo para aquela que terá sido a mais grave tragédia humana de todos os tempos, de que ele foi o grande responsável. É certo que um povo pode reagir irracionalmente às injustiças de que se considera vítima, como aconteceu com a Alemanha no final da primeira guerra mundial. É certo que Hitler soube explorar e cavalgar essa reacção, até conseguir o poder total no seu país, por via eleitoral. Mas essa reacção não chega para desculpar todo o seu povo.