Mensagem (63): Dar uma casa ao futuro

As sociedades contemporâneas realizaram uma curiosa inversão de tendências no que concerne à relação dos jovens com a casa familiar: enquanto, há bem menos de meio século, a grande aspiração dos adolescentes era deixar a casa paterna logo que isso lhe fosse permitido, por intermédio do casamento, aos dezoito anos ou pouco depois disso, na atualidade, o jovem prolonga quase indefinidamente essa saída, muito para além do que seria expectável. Deu-se, de facto, um verdadeiro “regresso à casa familiar”. Porquê?

As razões serão as mais diversas. Mas creio que uma não é despicienda: a casa deixou de ser o lugar da heteronomia, das normas vinda de fora, do pai e da mãe, e transformou-se no espaço de autonomia de cada um. Para bem e para mal. Mas espaço de liberdade. Ora, quando a esta liberdade se acrescenta o alojamento e a alimentação grátis, a ajuda económica e os cuidados globais, a convivialidade e a segurança, entra-se no grande patamar de acesso à felicidade.

Isto sob o ponto de vista material. Ao nível das emoções, o ambiente familiar acrescenta aquele sentimento de refúgio que não se encontra em qualquer outro lugar. Numa sociedade fria, competitiva, agressiva e de amizade interesseira, o jovem sabe que é na família que encontra a ternura que muitas situações prometem e quase nenhuma concede. Sim, a casa familiar é (ou deveria ser…) o lugar da ternura.

Ora, a casa é também metáfora de nós mesmos. Com frequência, «desabitamos» a casa do nosso ser pessoal e social. Fugimos do nosso centro de gravidade porque tornamos fundamental o que deveria ser secundário: a economia, a promoção social, o parecer, o colecionar experiências. E o mesmo acontece na sociedade e na Igreja: para esta, em concreto, é frequente não ter tempo, secundarizar, esquecer. E, a médio prazo, sair para fora dela. Abandoná-la. Desabitá-la.

Claro que importa também responder à questão central: e as famílias, a sociedade e a Igreja são «habitáveis»? Oferecem a tal ternura que se almeja? No que à Igreja diz respeito, há que fazer contrição e dizer: nem sempre a Igreja tem sido o lugar da ternura. Desgraçadamente!

Os jovens são hipersensíveis à ternura. Abramos-lhes as portas da Igreja. Mas de uma Igreja… habitável. De uma Igreja casa da ternura.

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