Domingo III do Tempo Comum

Foto: Rui Saraiva

26 de Janeiro de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro de Isaías                                                                      Is 8,23b – 9, 3 (9, 1-4)

«Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 26 (27)

O Senhor é minha luz e salvação.

 

Leitura da primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios       1 Cor 1,10-13.17

«Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir».

 

Aclamação ao Evangelho          Cf. Mt 4,23

Aleluia.

Jesus proclamava o Evangelho do reino

e curava todas as doenças entre o povo.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 4,12-23

«Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus».

«Jesus chamou-os, e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O».

 

Viver a Palavra

A Liturgia da Palavra deste Domingo convida-nos a olhar a nossa vida como um lugar dinâmico, onde seguir Jesus implica uma permanente conversão que abre a nossa vida ao desígnio de salvação que Deus nos oferece em Cristo.

As trevas são vencidas pela luz esplendorosa que brota do Coração de Deus: «o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou». Na verdade, peregrinando os trilhos da história são muitas as sombras que nos assaltam no caminho, contudo, elas não têm a última palavra. No provisório da dor e do sofrimento, irrompe a certeza incorruptível de que o amor de Jesus e a Sua luz são mais fortes que as trevas e sombras que nos envolvem. Uma doença, a partida de alguém que amamos, a falta de esperança diante das dificuldades e tantos outros desafios e obstáculos fazem parte da nossa condição humana e esta difícil e exigente condição seriam catastróficas se estivéssemos abandonados unicamente à nossa capacidade humana. Somos obra das mãos de Deus, salvos e redimidos pelo amor de Jesus Cristo e olhamos a nossa existência e as vicissitudes da história com o olhar amoroso Daquele que por nós morreu e ressuscitou.

Como outrora Simão e André, Tiago e João também nós contemplamos Jesus que atravessa o nosso quotidiano, vem ao nosso encontro, às fadigas e canseiras das nossas redes tantas vezes vazias. Irrompendo no concreto da nossa história, Jesus propõem-nos um novo rumo e um novo sentido: «Vinde e segui-Me».

Parece tão vaga a proposta. Contudo, seguir Jesus é a escolha decisiva que inaugura um tempo novo na nossa existência. Não quer dizer que por seguirmos Jesus as dificuldades deixarão de fazer parte da nossa vida. Contudo, elas ganharão uma forma diferente pois diante das contingências da nossa história, está Jesus, Aquele que quando nos toma pela mão nunca nos abandona.

No texto do Evangelho que escutamos neste Domingo estão intrinsecamente unidos o seguimento e a conversão. Seguir Jesus implica entrar num processo de permanente conversão e, por isso, sentimos ecoar no nosso coração as primeiras palavras de Jesus dirigidas à humanidade no Evangelho de S. Mateus: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus».

A proximidade de Deus revelada em Jesus Cristo impele-nos a uma permanente revisão de vida, onde o reconhecimento da nossa condição frágil e pecadora em nada nos inferioriza mas se torna precisamente a oportunidade de crescimento e amadurecimento rumo à santidade, ao cumprimento das promessas do Reino que já está no meio de nós mas que ainda não se realizou em plenitude.

Sem qualquer complexo de inferioridade reconhecemos que não somos perfeitos e tomamos consciência que esta fragilidade e debilidade são um caminho e um lugar constante de mudança e de aperfeiçoamento. Por isso, a conversão e o arrependimento dão lugar à salvação. A conversão é a arte de afinar o coração com a vontade de Deus e neste permanente afinar do coração encontramos o caminho da verdadeira felicidade.

Contudo, a tarefa da conversão e do seguimento de Jesus não é uma aventura isolada. Jesus convoca estes primeiros discípulos dois a dois, recordando que não partimos sozinhos, mas partilhando a aventura da fé com tantos outros homens e mulheres que partilhando a mesma condição frágil e pecadora, partilham também a certeza de terem encontrado em Jesus Cristo Aquele que dando um sentido novo à sua vida, os impele a deixar tudo, para abrirem o coração à novidade do Seu Evangelho. Por isso, Paulo escrevendo à comunidade de Corinto recorda que a comunhão e unidade devem ser a marca distintiva daqueles que querem seguir Jesus. Convocados pelo Seu amor, partimos unidos para que a nossa fraternidade seja o mais belo anúncio de que a Luz que despontou nas trevas nos aponta o horizonte luminoso da salvação que nos é oferecido em Jesus Cristo.

 

Homiliário patrístico

Do Sermão de São Leão Magno, papa,

sobre as Bem-aventuranças (Séc. V)

Não há dúvida de que os pobres alcançam o dom da humildade com mais facilidade que os ricos, na medida em que aqueles, no meio das suas privações, se familiarizam facilmente com a mansidão, ao passo que estes, no meio das riquezas, se habituam facilmente à arrogância. Todavia, também não faltam ricos que usam da abundância, não para sua orgulhosa ostentação mas para obras de caridade, considerando que o melhor lucro é o que se gasta para aliviar a miséria do próximo.

Depois do Senhor, os Apóstolos foram os primeiros a dar-nos o exemplo desta magnânima pobreza. À voz do divino Mestre deixaram tudo o que tinham; num momento, passaram de pescadores de peixes a pescadores de homens e conseguiram que muitos, imitando a sua fé, seguissem o mesmo caminho. Com efeito, entre aqueles primeiros filhos da Igreja, todos os crentes tinham um só coração e uma só alma; deixavam todas as suas posses e haveres para abraçarem generosamente a mais perfeita pobreza e enriquecerem-se de bens eternos; assim aprendiam da pregação apostólica a encontrar a sua alegria em não ter nada neste mundo e tudo possuir em Cristo.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. Com a Carta apostólica sob forma de Motu Proprio Aperuit Illis, o Papa Francisco instituiu o Domingo da Palavra de Deus que deve celebrar-se no III Domingo do Tempo Comum como uma jornada de «celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus». O Santo Padre afirma que cada comunidade com criatividade pastoral e atenta às diversas exigências e realidades de cada comunidade encontrará a forma de viver este Domingo como um dia solene. Deste modo, cada comunidade poderá valorizar este dia na celebração litúrgica de diversos modos, contudo, poderá ser importante encontrar momentos de preparação e celebração deste dia fora da celebração eucarística com um momento de formação sobre a Palavra de Deus ou a Lectio Divina comunitária. No início do Tempo Comum poderia ser também oportuna uma reflexão bíblica acerca do evangelista deste ano litúrgico.

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, deve ter-se em atenção a pronunciação dos nomes das regiões «Zabulão», «Neftali» e «Madiã». Além disso, a proclamação desta leitura deve ser marcada pela alegria e esperança da luz que desponta nas trevas que submergem todos aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do desespero. Na segunda leitura, deve ter-se em atenção as frases longas e com diversas orações que requerem um especial cuidado nas pausas e respirações para uma leitura mais articulada do texto. Devem ter presente o tom exortativo que marca todo o texto e uma correcta pronunciação das frases interrogativas, evitando a acentuação interrogativa das frases apenas no final de cada oração.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Cantai ao Senhor um cântico novo – F. Santos (CN 274); Salmo Responsorial: O Senhor é minha luz e minha salvação (Sl 108) – M. Luís (CN 717); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Jesus proclamava o Evangelho do Reino… – C. Silva (CN 47); Ofertório: Caminhando Jesus junto ao mar – C. Silva (CN 266); Comunhão: Aproximai-vos do Senhor – F. Santos (CN 215); Final: O amor de Deus repousa em mim – C. Silva (CN).