Médio Oriente: o agravamento da crise

Em Março de 2003, começou a segunda das guerras que forças estrangeiras levaram ao Iraque no espaço de pouco mais de duas décadas. Foi uma guerra que passou à História como a Guerra do Golfo, embora em 1980 já tinha havido no Golfo um grave conflito militar entre o Iraque e o Irão.

Por António José da Silva

Aquela a que toda a gente chama hoje a guerra do Golfo, a de 2003, teve o apoio da ONU que legitimou uma vasta e partilhada operação militar conjunta sob a liderança dos Estados Unidos da América. Os combates duraram cerca de meio ano e terminaram com a derrota humilhante das tropas de Saddam Hussein, o que não evitou a eclosão de outra guerra 11 anos depois.

Este novo conflito começou com a invasão do Iraque por forças americanas e britânicas e não teve, desta vez, o apoio da ONU. Pode mesmo dizer-se que os motivos invocadas pelos governos de Washington e de Londres não convenceram ninguém, pelo que americanos e ingleses não foram recebidos no Iraque como libertadores mas sim como invasores. De qualquer modo, as forças armadas de Saddam sofreram uma nova e pesada derrota que significou também a morte política e física do ditador que tinha anunciado prematuramente a sua vitória gloriosa naquela que ele mesmo chamou a mãe de todas as guerras.

O Iraque começou então um novo capítulo da sua história recente e pode dizer-se que esse novo capítulo esteve longe de corresponder às expectativas dos americanos quando lançaram a invasão. Por um lado, a ideia de que todos os iraquianos ansiavam por uma democracia de tipo ocidental revelou-se irrealista, além de que a divisão do país entre muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas tornou muito mais difícil unir todo o povo à volta dum mesmo objectivo proposto e defendido por estrangeiros. Vencidos militarmente, grupos de iraquianos optaram então por uma estratégia de terror que durou vários anos e fez milhares de vítimas entre o seu próprio povo.

Na dimensão que chegou a atingir, este cenário trágico parecia já ultrapassado, mas o certo é que a divisão entre sunitas e xiitas não se atenuou, sobretudo a partir do momento em que o Irão se decidiu por uma intervenção claramente assumida no Iraque, em nome da solidariedade religiosa e política para com a comunidade xiita deste país. Foi esse espírito que levou até ao Iraque, onde acabou por morrer, vítima de um ataque americano, o general Soleiman, o comandante das forças de elite iranianas. E a situação no Médio Oriente tornou-se ainda mais explosiva…