Um orçamento sem ecologia?

Um orçamento de per si tem de ser ecológico. Afirmado, assim, desta forma quase que diríamos que tem de se preocupar com as questões ambientais, e é verdade que sim, mas “ecologia” não termina, nem começa aí.

Por Joaquim Armindo

Porque “ecologia” é a vida em relação, numa relação profunda dos seres humanos com a Natureza, com o desenvolvimento humana integral, em todas as suas latitudes. A ecologia é a vida em casa, uma família que torna habitável o cosmos e, desde logo, o lugar onde vivemos, os seus ecossistemas e fundamenta a sua ação em torno dessa relação, que também vive dos avanços históricos e as ciências evolutivas. Se os animais e as plantas, como seres também vivos, são importantes nesta relação, os seres humanos dependem dela, porque são eles que tratam ou não dessa relação; são eles os seres que habitam na Criação, e que receberam a incumbência de a cultivarem bem, o que nem sempre acontece. Por isso hoje se clama por uma reconciliação ecuménica entre os seres humanos e os outros seres viventes. Por isso o papa Francisco, nos convoca, às cristãs e aos cristãos e a todas as mulheres e homens de boa vontade, para uma “Ecologia Espiritual”.

Um orçamento de estado tem de ser ecológico, isto é, atender às mais diversas variantes demográficas, culturais, tecnológicas, económicas, culturais e sociais, éticas, morais e políticas. Compreende-se que os orçamentos se queiram positivos sem défices, porque não queremos dívidas e juros a pagar, mas este grande vetor que detém quase a totalidade orçamental, esquece que a base para o entendimento popular de qualquer esforço neste domínio, passa por uma aposta na Ecologia Cultural, com o défice sistémico e continuado desta vertente fundamental, não se compreenderá como vencer estruturalmente as dívidas que Portugal, o meu País, possui. Não vislumbro, contudo, o valor sustentável da Cultura nos orçamentos apresentados e conformamo-nos com nem 1% do Produto Interno Bruto, ou 2% do orçamento, como se diz agora.

Temos de concluir que é um orçamento sem atender ao fundamental do nosso país, que se traduz por Cultura. Caminhemos o que caminharmos, as reduções dos défices não são consistentes sem a valorização cultural do nosso povo, e por isso continuamos a pensar que o orçamento que “eles” fazem, não é o “nosso” orçamento.