Francisco, 2019: recordando viagens e as JMJ do Panamá

Foto: Vatican News

Recordamos aqui o essencial da informação sobre três das sete viagens internacionais do Papa Francisco no ano 2019: Bulgária, Tailândia e Japão. Destaque ainda para as JMJ do Panamá onde estiveram centenas de milhares de jovens. No final do evento, ficamos a saber que as próximas Jornadas Mundiais da Juventude vão ter lugar em Portugal no ano 2022.

Por Rui Saraiva

O ano 2019 foi pleno de etapas importantes e intensas no pontificado de Francisco. De 5 a 7 de maio teve lugar a 29ª Viagem Apostólica. O Papa visitou a Bulgária e a Macedónia do Norte. Países onde os católicos são minoria. Destacamos aqui o encontro inter-religioso pela paz em Sófia, na Bulgária.

Bulgária: encontro inter-religioso pela paz

Sófia, Bulgária, dia 6 de maio: na Praça da Independência o Papa Francisco participou num evento pela paz, juntamente com representantes de outras confissões religiosas. Seis crianças empunhando luzes fizeram a ponte, representando as seis principais confissões religiosas do país: Ortodoxa, Arménia, Hebraica, Protestante, Muçulmana e Católica.

O significado deste momento foi o de testemunhar que todos os búlgaros rezam pela paz. A paz, que é também a paz de Cristo, sobre a qual escreveu S. João XXIII na sua Encíclica “Pacem in Terris”. João XXIII, Angelo Roncalli, que ali na Bulgária, foi Visitador Apostólico de 1925 a 1934.

O Papa recitou a oração de S. Francisco e recordou o seu amor “pela Criação”. “Amor que o levou a ser um autêntico construtor de paz” – disse o Santo Padre exortando todos os presentes a serem construtores de paz:

“Paz que devemos implorar e pela qual devemos trabalhar: dom e tarefa, presente e esforço constante e diário para construir uma cultura, onde também a paz seja um direito fundamental” – disse o Papa.

Francisco referiu-se à simbologia da luz, chamando-lhe “fogo de amor” e “farol de misericórdia, amor e paz” para todo o mundo: “Com o fogo do amor, queremos derreter o gelo das guerras” – disse o Papa.

“Estamos a viver este evento em prol da paz nas ruínas da antiga Serdika, em Sófia, coração da Bulgária. Daqui podemos ver os lugares de culto de diferentes Igrejas e Confissões religiosas: Santa Nedélia dos nossos irmãos ortodoxos, São José dos católicos, a sinagoga dos nossos irmãos mais velhos – os judeus –, a mesquita dos nossos irmãos muçulmanos e, aqui perto, a igreja dos arménios” – recordou o Santo Padre.

Considerando ser aquele local um símbolo e “testemunho de paz”, o Papa lançou um apelo aos líderes religiosos, políticos e culturais para que cada um seja “um instrumento de paz”.

Tailândia: recordar as vítimas de violência, abuso e exploração

A 32ª Viagem Apostólica do pontificado de Francisco foi à Tailândia e ao Japão e decorreu de 19 a 26 de novembro neste ano de 2019. A Tailândia foi a primeira etapa. No discurso às autoridades tailandesas o Santo Padre lembrou as vítimas de violência, abuso e de exploração. Foi em Bangkok, na quinta-feira 21 de novembro, na sede do Governo da Tailândia. Um país aonde os missionários portugueses chegaram em 1567.

“Esta terra tem como nome liberdade” – recordou o Papa afirmando a necessidade de serem superadas as desigualdades através do acesso à saúde, ao trabalho, à educação: “… é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral” – disse Francisco.

Espaço no discurso do Papa para falar sobre a crise migratória, apontando que cada nação deve “proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração” – frisou o Papa.

Muito importante a referência de Francisco às vítimas de escravidão e abuso, especialmente as mulheres e as crianças: “… penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso”.

No final do seu discurso, o Papa assinalou que as sociedades precisam de “artesãos da hospitalidade” que “cuidem do desenvolvimento integral dos povos”: “… hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de artesãos da hospitalidade, homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna”.

Japão: defender a abolição das armas nucleares

Muito importante o momento vivido pelo Papa Francisco em Nagasaki no segundo dia da sua visita ao Japão a 24 de novembro. Ao visitar esta cidade, o Santo Padre prestou homenagem às vítimas das bombas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial e recolheu-se num breve momento de oração.

No seu discurso, o Papa sublinhou o horror do sofrimento causado pelas armas nucleares, como documentam recentes “descobertas na Catedral de Nagasaki”. Francisco afirmou que a posse de armas “não é a melhor resposta” para a paz e estabilidade internacional que não se constroem através do “medo” – assinalou.

O Santo Padre ergueu a sua voz “contra a corrida aos armamentos” e apelou a um futuro de paz que “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais” – disse o Papa.

Francisco referiu o perigo das novas tecnologias de armamento e declarou a necessidade de se romper com a desconfiança que prevalece na política internacional: “É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controlo dos armamentos. Estamos a assistir a uma erosão do multilateralismo, agravada ainda mais com o desenvolvimento das novas tecnologias das armas; esta abordagem é bastante incoerente no contexto atual caraterizado pela interconexão e constitui uma situação que requer atenção urgente e dedicação por parte de todos os líderes” – declarou.

Francisco afirmou o empenho da Igreja Católica na promoção da paz, recordou o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares e o apelo dos bispos do Japão em julho passado sobre a abolição das armas nucleares.

O Papa reafirmou a força da oração, da “busca incansável de promover acordos” e de insistir no “diálogo” como autênticas “armas” pela paz. E pediu aos líderes políticos para não se esquecerem de que as armas nucleares não defendem das ameaças à segurança.

JMJ do Panamá: Jovens, “construtores de pontes”

Foi no final das Jornadas Mundiais da Juventude 2019 a revelação da notícia tão aguardada: a edição das JMJ 2022 será em Portugal. O anúncio oficial foi feito na conclusão da Missa de domingo dia 27 de janeiro no Campo São João Paulo II, no Metro Park, na Cidade do Panamá. As JMJ do Panamá decorreram há cerca de um ano de 22 a 27 de janeiro de 2019. Foi a 26ª Viagem Internacional de Francisco. Recordamos aqui alguns momentos do Papa com os jovens.

Na quinta-feira dia 24 de janeiro o Papa Francisco foi acolhido para a XXXIV edição das Jornadas Mundiais da Juventude no Campo de Santa Maria La Antígua na Faixa Costeira da cidade do Panamá. Centenas de milhares de jovens saudaram o Santo Padre efusivamente e escutaram com grande atenção as suas palavras. A acolher o Papa representantes jovens dos cinco continentes. Do continente europeu era português o rapaz que acolheu o Santo Padre. Joaquim Goes, o seu nome.

Francisco assinalou que este grande evento de juventude é tempo de encontro na pluralidade para que os jovens sejam “construtores de pontes”. O Papa exortou os jovens a viverem um “sonho comum” que a todos envolve: “um sonho chamado Jesus”: “A cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo um sonho comum”.

“O sonho, pelo qual Jesus deu a vida na cruz e o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, foi derramado e gravado a fogo no coração de cada homem e mulher, no teu e no meu, com a esperança de aí encontrar espaço para crescer e desenvolver-Se. Um sonho chamado Jesus, semeado pelo Pai com a confiança que crescerá e viverá em todo o coração” – disse o Papa.

O Papa recordou as palavras de S. Óscar Romero: “O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que reivindica e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo”.

Um encontro no amor de Cristo – disse Francisco – “um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva” – declarou o Papa frisando que o amor em Cristo é “serviço” e “doação”.

Na sua intervenção inicial aos jovens reunidos nas Jornadas Mundiais da Juventude, o Papa Francisco recordou o amor com o qual Maria, Mãe de Jesus, disse sim: “Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua Palavra”.

Junto da Cruz para acolher e acompanhar quem sofre

Dia 25 de janeiro, Via Sacra dos Jovens com o Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude no Panamá: nas várias estações os jovens refletiram sobre os sofrimentos dos pobres, dos povos indígenas, dos migrantes, dos mártires cristãos, a violência sobre as mulheres, a corrupção, o terrorismo, o aborto. Rezaram pelo ecumenismo, pelos Direitos Humanos, pela defesa do ambiente.

Francisco na sua reflexão começou por assinalar “o caminho de Jesus para o Calvário” como sendo “um caminho de sofrimento e solidão que continua nos nossos dias”. Um sofrimento que continua numa sociedade onde impera a indiferença “que consome e se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus irmãos” – disse o Papa.

O Santo Padre reconheceu que também nós, amigos do Senhor, nos deixamos “levar pela apatia” e pelo “imobilismo”, pois “é fácil cair na cultura do bullying, do assédio e da intimidação!”

Francisco lembrou também as “mulheres maltratadas”, os “olhos tristes dos jovens que veem ser arrebatadas as suas esperanças de futuro por falta de instrução e trabalho digno” e aqueles que “caem nas redes de pessoas sem escrúpulos”, os jovens que se deixam absorver “numa espiral de morte por causa da droga, do álcool, da prostituição e do tráfico humano”.

O Santo Padre recordou ainda os que vivem na solidão e os que são rejeitados pela sociedade; os idosos que são “abandonados e descartados”; “os povos nativos despojados das suas terras”; a mãe Terra “ferida nas suas entranhas”.

Francisco perguntou-se se somos hoje capazes de consolar e acompanhar quem sofre, permanecendo ao pé da Cruz. A este propósito recordou Maria, Mãe de Jesus, “mulher forte” que disse “sim” que “apoia e acompanha, protege e abraça. É a grande guardiã da esperança” – disse o Santo Padre que sublinhou que com Maria “aprendemos a dizer sim” no apoio a quem precisa. Dizer sim acolhendo os abandonados, os que perderam a sua terra, a família ou o emprego.

Ide e testemunhai

No dia 27 de janeiro, domingo, no Estádio Rommel Fernández, o Papa Francisco encontrou-se com os voluntários que organizaram e prestaram serviço nas Jornadas Mundiais da Juventude do Panamá.

O Santo Padre referiu que após esta experiência das JMJ os jovens que participaram como voluntários já sabem o que significa o que é uma missão e sublinhou como é importante não deixar que “as limitações” e “as fraquezas” nos “bloqueiem e impeçam de viver a missão” a que Deus nos chama.

Francisco assinalou, em particular, a importância da oração na organização de um evento como as JMJ: “Preparastes cada detalhe com alegria, criatividade e empenho, e com muita oração. Porque, se for rezada, sente-se a realidade em profundidade. A oração dá espessura e vitalidade a tudo o que fazemos. Rezando, descobrimos que fazemos parte duma família maior de quanto possamos ver e imaginar” – afirmou o Papa.

No culminar desta grande experiência de fé, o Santo Padre declarou ser este o momento de enviar os voluntários na missão de testemunhar a todos o que viveram: “Ide e contai, ide e testemunhai, ide e transmiti o que vistes e ouvistes. Tudo isto, queridos amigos, dai-o a conhecer, não com muitas palavras, mas – como fizestes aqui – com gestos simples do dia-a-dia, aqueles que transformam e fazem novas todas as coisas” – declarou o Papa.