Conversão ecológica

A paz também é necessariamente uma conversão ecológica – enfatiza o bispo de Roma, papa Francisco na sua mensagem para o dia mundial da Paz, 1 de janeiro de 2020.

Por Joaquim Armindo

“O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas exigentes, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações.”, refere ainda que não haverá Paz enquanto um diálogo não for a procura da verdade, para além dos milhares de ideologias e ideias diferentes, sempre uteis, desde que sirvam o bem viver. A paz é dos seus construtores, ou descobridores, sim porque a Paz de Deus existe, só que nós a tapamos muito bem, por isso é que Francisco refere que a Paz se constrói sempre buscando o bem comum, na escuta mútua, onde cresce a estima, onde se vê no “inimigo”, o rosto de Deus, o rosto de um irmão. Ora para tal é necessário, não o caminho do juiz que julga o outro, mas do reconhecer no outro as qualidades que nos estão vedadas, pelas grandes traves dos nossos olhos.

Esse caminho de reconciliação é também a escuta e contemplação do cosmos, criado por Deus, e que não imaginamos sequer onde começa e onde acaba, porque não tem começo, nem fim. É, simplesmente. Essa reconciliação com a nossa “casa comum” se é obtida à força do diálogo, não em julgamento, no atendermos a tantas forma de vida, diferentes para cada um de nós, mas iguais para Deus, no atendermos ao facto de que os recursos naturais, nos foram confiados, não para os atropelarmos, mas como “seres cultivados e guardados”. Tal significa mudar de vida, de convicções e perspetivas diferentes das que temos, e percebermos que em toda a Criação de Deus, existe beleza e sabedoria.

Não só neste, mas em todos os documentos do bispo de Roma, fala nesta conversão ecológica, e “Ecologia” com a ciência da relação entre as entidades vivas e o meio ambiente, nesta sinecologia necessária ao nosso desenvolvimento cultural, social, económico e ambiental – um meio ambiente onde pontificam seres abióticos e bióticos. Então, esta conversão ecológica necessária à construção – ou descobrimento da Paz –, não será obtida através duma conversão assintomática temporal, mas de um sentido na profundidade de cada ser humano e na sua relação com toda a Criação. Desconhecer isto, é não viver, como uma felicidade de “cada um no seu cantinho”. Desconhecer ou ignorar isto não é ser construtor da Paz.