O Ocidente e as crises de liderança

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Que um chefe de estado seja objecto de gozo por alturas da sua visita a outro país não constitui propriamente uma novidade, embora se trate, geralmente, de comportamentos protagonizados por grupos de populares que pretendem pôr em causa a política de um qualquer país, ridicularizando a sua figura mais representativa.

Por António José da Silva

Já constitui uma novidade, e uma novidade chocante, ver essa figura a ser tratada em tom de chacota ou gozo por chefes de estado ou de governo desses países. Ora terá sido praticamente aquilo que, segundo o título de um matutino do Porto, parece ter acontecido a Donald Trump, no decurso da sua participação na última Cimeira do Tratado do Atlântico Norte.

É sabido que Donald Trump está muito longe de recolher a simpatia da maior parte da opinião pública internacional, embora não seja totalmente claro que esse sentimento de antipatia fosse partilhado pelos seus governantes, pelo menos com a mesma intensidade. Ao longo da primeira parte do sue mandato, o presidente norte-americano foi acumulando erros políticos e comportamentais que uma grande parte dos cidadãos europeus, e falamos particularmente destes, acabou por não suportar por muito tempo.

Os governantes do velho continente, a maior parte dos quais velhos aliados dos norte-americanos, foram dando sinais de cansaço e impaciência face a esse comportamento, embora a sua reacção nunca pudesse se tão franca como a da opinião pública e, mais ainda, a da opinião publicada. Parece no entanto que na última reunião da NATO, que teve lugar em Londres, esses pruridos acabaram e alguns dos participantes não se coibiram de manifestar publicamente a sua discordância com o presidente dos Estados Unidos, o país fundador e líder daquela Organização. Falamos particularmente do chefe de estado francês e do primeiro ministro canadiano.

O primeiro afirmou recentemente que a situação clínica da NATO era a de morte cerebral, e o segundo não foi menos pessimista no seu diagnóstico. Talvez por isso, Donald Trump o tenha classificado como um político de duas caras dentro daquela Organização,, esquecendo-se do que ele mesmo dissera, ainda não há muito, sobre aquela que foi, durante muitos anos, a grande barreira política e militar contra os avanços da então União Soviética. No cenário actual, uma coisa parece certa: com estas divisões internas na NATO, e tendo em conta a grave crise visível na sua liderança, o único a poder rir é o presidente russo. O diagnóstico de que a situação clínica da Organização é a de morte cerebral pode ser exagerada ou demasiado pessimista, mas não deixa de justificar sérias preocupações.