O Concílio determinou que no novo Ritual a preparar para o batismo dos mais pequeninos se desse uma maior atenção ao lugar e aos deveres dos pais e dos padrinhos (SC 67). O novo Ritual do BC pôs em prática esta determinação de uma forma tão insistente que chega a parecer impertinente, por repetitiva.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Nos preliminares começa por recordar que as crianças «são batizadas na fé da Igreja, proclamada pelos pais e padrinhos […]»(CB 2. Cf. 5.4). Logo a seguir o n.º 5 recorda o papel decisivo dos pais, antes, durante e depois da celebração do sacramento (CB 5.1.5; cf. 8, 25, 27…). Na própria celebração eles realizam «um verdadeiro ministério» com variadas e importantes intervenções «ministeriais» no decorrer da celebração (CB 5.3) e são repetidamente exortados a um compromisso em vista do futuro:
– No momento do acolhimento, à entrada da igreja, pedem publicamente e de viva voz o Batismo para os filhos e comprometem-se a «educá-los na fé, para que, observando os mandamentos, amem a Deus e ao próximo, como Cristo nos ensinou» (CB 39); após o ministro também eles fazem o sinal da cruz na fronte dos seus filhos.
– A Liturgia da Palavra é pensada fundamentalmente em função dos pais e padrinhos: «A celebração da palavra de Deus tem por finalidade despertar, antes da realização do mistério, a fé dos pais e padrinhos e das pessoas presentes, e alcançar o fruto do sacramento mediante a oração comum» (CB 17).
– Na Liturgia do Sacramento os pais e padrinhos mais do que comprometerem-se em nome da criança são convidados a renovar os seus próprios compromissos batismais pela renúncia ao pecado e pela profissão de fé: as crianças não são batizadas na fé dos pais mas sim «na fé da Igreja» que os pais e padrinhos são convidados a professar com o assentimento expresso de toda a comunidade que declara ser essa a sua fé, a fé da Igreja (CB 56-59);
– Ao levar o filho à pia batismal (função própria da mãe), os pais são convidados, mais uma vez, a manifestar a sua vontade de que o filho seja batizado (CB 60).
– Nos «ritos explicativos» o ministro recorda a importância do exemplo da família para conservar imaculada a veste batismal e confia aos pais e padrinhos o cuidado de velar para que a luz de Cristo não se extinga na vida do neófito (CB 63, 64).
– Nos ritos conclusivos e após todos terem rezado em nome próprio e no dos neófitos a Oração do Senhor, é invocada uma bênção especial para as mães e os pais; finalmente, recomenda-se o costume de levar as crianças ao altar da Santíssima Virgem após o Batismo (CB 68s, 70, 71).
É evidente que uma correta «interpretação» desta proposta Ritual encerra sérias interpelações à nossa solicitude pastoral. O mistério do Batismo e a «verdade» do sacramento está longe de caber tempo que pode demorar a execução «decente» do Ritual. Hoje vamos tomando consciência de quão decisivo é o «antes» e o «depois». Por isso é que, cada vez mais, a pastoral do Batismo das crianças tem de ser um capítulo de «pastoral missionária». Em 1996, a Comissão Episcopal Francesa de Liturgia e Pastoral Sacramental publicou um documento que, passados 20 anos, é oportuno revisitar e transpor para o contexto português: «Pontos de referência em Pastoral Sacramental». Também em Portugal, a Pastoral Sacramental tem de ser um capítulo da pastoral missionária. O documento enumerava algumas características desta missionaridade:
– Importância essencial de acolhimento;
– Envolvimento de todos os batizados e não apenas de agentes especializados;
– Articulação com a vida da Igreja e da sociedade;
– Necessidade de discernir critérios de ação que tenham em conta a realidade sem deixar de ser fiéis ao Evangelho e ao sentido dos sacramentos;
– Apesar das dificuldades do contexto, propor sem medo os sacramentos de Cristo como parte integrante da própria evangelização (pág. 18 s).