
No dia 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet liderou um golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende e pôs fim ao regime democrático que vigorava naquele país sul americano.
Por António José da Silva
Foi um golpe que motivou o interesse, por vezes apaixonado, dos Meios de Comunicação de todo o mundo, particularmente na Europa Ocidental. Pinochet só abandonou as funções presidenciais ao fim de 17 anos de um poder absoluto e discricionário. As violações dos direitos humanos cometidas nesse período de tempo constituíram matéria de numerosos trabalhos de investigação jornalística nos anos que se seguiram à sua morte em 2006.
Reposta a normalidade democrática, com a sucessiva realização de eleições, o Chile deixou de motivar o mesmo interesse mediático dos tempos da ditadura de Pinochet. Entre as poucas exceções a este aparente desinteresse, registamos particularmente duas: o grande terramoto do ano de 2010, e o resgate bem sucedido dos mineiros soterrados nas minas de ouro de S. José, também no mesmo ano, um resgate que mereceu uma grande cobertura televisiva. Tendo em conta o regresso à normalidade democrática e ainda o facto de a situação económica do Chile ser de um nível razoável, superior mesmo ao da maioria dos países vizinhos, o facto é que o país deixou de ser um tema prioritário para a Comunicação Social.
Um pouco surpreendentemente, este cenário acaba de mudar porque, desde algumas semanas atrás, os “Media” voltaram a dar a sinais de interesse por aquele país. Tudo começou por algumas manifestações contra o aumento dos preços dos bilhetes do “Metro” em Santiago. Foram pequenas manifestações pacíficas, convocadas por grupos de jovens, mas rapidamente participadas, sempre em crescendo, por grande parte dos cidadãos do país. O Governo reagiu no início com alguma prudência, mas com força suficiente para que Michele Bachelet, antiga presidente chilena e atual comissária da ONU para os Direitos Humanos tivesse pedido contenção aos responsáveis políticos, na resposta aos protestos. No entanto, e apesar das cedências do governo de Sebastian Pinera, estes continuaram sendo considerados hoje como as maiores manifestações que o país já conheceu desde a queda de Pinochet. Aquilo que começou por ser uma simples manifestação pacífica, sem grande expressão, acabou por se transformar numa enorme vaga de protestos que já causaram dezenas de mortos.
Hoje, não falta quem olhe para o Chile com preocupação. É certo que a situação que se vive hoje no país ainda está longe de ser perigosa como a da Bolívia, mas a memória do passado ainda recente justifica alguns receios.