No luto

Há algumas semanas pediram-me para refletir sobre a questão do “luto”. O luto que cada família tem pela morte de alguém que lhe é querido. Preparei a minha apresentação e lá fui cheio de sabedoria falar sobre o luto.

Por Joaquim Armindo

Não que não já tivesse experimentado o luto pela passagem a outra vida do sr. Francisco, da minha avó, do meu pai e saber a dor que sentimos e a saudade que cada um nos deixa, mais quando não os temos cá, porque aí sentimos aquilo que se chama saudade. Debitei palavra sobre palavra, socorri-me da Palavra de Deus, com um trabalho em pequenos grupos, creio que o timbre de voz estava adequado, até que uma pessoa conseguiu dar a lição que eu havia preparado, já nas intervenções do público.

Ainda com o sofrimento da perda do marido há dois meses e vinte e sete dias, bem patente no seu olhar de saudade, conta. A sua vida mudou desde que o marido ficou com uma doença incurável. Trabalhava, preparava toda a alimentação, que lhe deixava, até que não teve outro remédio de vir para casa cuidar dele. A família dele desapareceu e os amigos e amigas, salvo meia dúzia perguntavam “está tudo bem!”, como se alguma coisa estivesse bem. É cristã, o único sopro de ar puro que recebia era o ministro da comunhão, semanalmente, que ia levar a comunhão. De resto o alheamento foi total, a comunidade cristã desapareceu, os passos andados dia a dia era sós, digamos que ficou como Jesus, no horto, quando os seus amigos e amigas o deixaram com os guardas romanos, entregue à sua sorte, mesmo Pedro que tinha a certeza de estar com Ele até à última. Mas tudo sofreu! E ela também sofreu!

Chegou o tempo do fim, o marido faleceu. Teve o serviço chamado de exéquias, conforme manda a liturgia. Sentiu-se apunhalada, não é que o senhor padre que presidiu ao funeral, nem uma palavra lhe disse. E esta senhora sentiu este desprezo dum “funcionário” de Deus, nem uma palavra de conforto – repetia no seu relato -, nem um “precisa de alguma coisa”, mesmo que no seu interior gostasse que a resposta fosse um “não”.

Assim não – digo agora eu -, assim não Igreja, não és de Jesus, mesmo que isso se passe numa comunidade toda cristã perto da nossa porta.