“A Missão da Igreja”

Em 1975, D. António Ferreira Gomes disse-me que deveríamos formar a “retaguarda teológica da Igreja”.

Por João Alves Dias

Com esse espírito, e em início de Advento, faço-me eco do livro “Pobre Para os Pobres ” que, no Prefácio, mereceu estas palavras do Papa Francisco: “Estou certo de que cada um de vós que irá ler estas páginas, de algum modo, deixar-se-á tocar no coração e sentirá surgir dentro de si a exigência de uma renovação da vida. Pois bem amigos leitores, sabei que nesta exigência e nesta estrada, me encontrarei desde agora convosco, como irmão e sincero companheiro de caminho”.

O autor, cardeal Gerhard Muller, começa por falar da sua passagem pelas favelas de Lima, no Peru que o levou à “compreensão da Teologia da Libertação”. E conclui: “Ao contrário do que afirma o marxismo – e também o atual liberalismo -, a Teologia da Libertação mostra precisamente como o Cristianismo não é uma «ideologia consoladora». Pelo contrário, demonstra que só Deus, Jesus e o Evangelho podem ter um papel autêntico e duradouro na humanização do homem, quer no aspeto individual, quer no social”.

A opção preferencial pelos pobres, continua, “é uma opção teocêntrica e profética que finca as suas raízes na gratuidade do amor de Deus e é requerida por ela”. Por força histórica dos pobres “não se entende certamente, a eliminação violenta de uma classe social em detrimento de outra vista como caminho para eliminar a opressão e a injustiça e alcançar o presumível paraíso na terra da sociedade sem classes”.

E acentua que “a Igreja só pode ser Igreja, se é Igreja para os outros. Noutros termos, emerge um fundamental e ineludível aut aut, isto é: ou «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias» dos discípulos de Cristo, ou então não somos verdadeiramente discípulos de Jesus; ou a igreja se apresenta não como uma comunidade religiosa separada do mundo e autossuficiente, mas como sacramento universal de salvação, ou a Igreja, quanto à sua natureza e missão, não é plenamente Igreja. A Igreja é verdadeiramente ela própria se é fiel à sua missão libertadora para salvação integral do mundo que tem a sua origem na mensagem de liberdade e libertação de Jesus e no próprio agir de Jesus”.

E fecha assim o capítulo «Palavra de Deus e Sinais dos Tempos»: Precisamos de uma Igreja que – com as belas palavras do Papa Francisco – «seja capaz de redescobrir as entranhas maternas da misericórdia. Sem a misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de nos inserir num mundo de «feridos», que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor».

Esta é a exigência do “Eu vim para servir (cf. Mc, 10,45) ” que, no passado dia 22, ouvi um bispo tão bem sintetizar: – “Uma Igreja que não serve para servir, não serve para mais nada”.