Mensagem (56): Samaritanos das prisões

A «nossa» Obra Vicentina de Apoio aos Reclusos comemorou bodas de ouro. Como se sabe, no ano passado, foi galardoada com o prémio Direitos Humanos, da Assembleia da República. Razões para trazer o tema à liça.

Não obstante o inegável esforço de humanização das prisões, as «cadeias» continuam a constituir o centro onde se entrecruzam todos os dramas ou o tecido urdido com as teias de todas as privações. Nelas faltam, tantas vezes, o mínimo dos mínimos, como o sabão ou a escova dos dentes. Mas faltam, sobretudo, condições afetivo-psicológicas.

O grande drama dos centros penitenciários é a violência ambiente, verbal e sentimental, entre os reclusos, a inexistência de intimidade, a impossibilidade de confidência, o frequente abandono familiar, a dificuldade de preenchimento do tempo livre, a angústia e a falta de esperança, o medo da liberdade e a perda da própria identidade, expressa na impossibilidade de possuir objetos pessoais, quando não na substituição do nome próprio pelo número atribuído.

A juntar a estes dramas, é frequente um outro: a carência de uma fé que conceda sentido à vida, ajude a suportar a dor na união com o Salvador, motive um comportamento e abra a uma esperança. A inexistência da fé tanto pode conduzir ao materialismo mais grosseiro como a uma hipersensibilidade ao misticismo: um santinho, um crucifixo, um livro de orações tidos como espécie de amuleto protetor ou força necessária para suportar as dores e privações.

Nestas circunstâncias, as visitas dos vicentinos e outros voluntários têm-se revelado como um oásis de serenidade e um ponto alto da pastoral no contexto das prisões. Para além de uma imensa ajuda material, esses visitadores têm escutado desabafos, auxiliado os detidos a ir ao encontro da própria consciência, favorecido a reflexão sobre as possibilidades de um ambiente mais sadio e solidário por detrás das grades, incentivado a cooperação entre reclusos, apoiado a fé dos crentes e respondido a questões sobre religião.

Incentivo os que já visitam reclusos a continuarem a fazê-lo. Pela sua ação também passa o cumprimento de uma das obras de misericórdia que será objeto de análise no juízo final (cf. Mt 25, 36). E, fundamentalmente, identifica o cristão com o Salvador que assim declarou como específica missão sua: “O Espírito do Senhor está sobre mim. […] Ele me enviou a proclamar a liberdade aos presos ” (Lc 4, 18-19).

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