
O Museu Nacional do Azulejo, situado em Lisboa, nas instalações do antigo convento da Madre de Deus (fundado em 1509 pela Rainha D. Leonor, fundadora também das Misericórdias), apresenta uma exposição peculiar, designada “Jorge Colaço e a Azulejaria Figurativa do seu Tempo”, que vai estar disponível até 28 de junho de 2020.
Por M. Correia Fernandes
A exposição disponibiliza ao público “uma mostra centrada nas obras de Jorge Colaço pertencentes à coleção do museu, colocando-as em contexto com exemplares qualificados da azulejaria figurativa do seu tempo”. A exposição dá também a conhecer a existência de um importante espólio documental, adquirido à família do artista em 2001, bem como oito painéis de azulejos do acervo do Museu de Lisboa.
Informa também o Museu que “a exposição integra-se nas comemorações dos 150 anos do nascimento de Jorge Rey Colaço, iniciadas no Museu de Cerâmica de Sacavém em 2018 e que envolveram outros parceiros como a CP, a Fundação Instituto Arquiteto Marques da Silva, as Infraestruturas de Portugal e a colaboração da investigadora Cláudia Emanuel”.
Jorge Rey Colaço (1868-1942), que assinava apenas Jorge Colaço, como se pode observar na assinatura que publicamos, nascido em Marrocos onde o pai era cônsul de Portugal, trabalhou em várias zonas do país. A cidade do Porto é depositária talvez da maior parte das suas obras figurativas mais conhecidas e mais admiradas: o átrio da estação de S. Bento, com cenas de interpretação da História de Portugal e muitas cenas de cariz etnográfico, que foram elaborados por Jorge Colaço e produzidos na Fábrica de Sacavém; a fachada da igreja dos Congregados; a fachada e painéis laterais da igreja de Santo Ildefonso, recordando essa figura histórica da Igreja de Espanha, tendo fundado a cidade de Toledo, no tempo dos Visigodos (séc. VII).
Um conjunto menos conhecido, mas particularmente interessante é o que reveste interiormente a capela de Fradelos, representando cenas da vida da Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897) no convento de Lisieux, em França, todos com assinatura de Jorge Colaço.
Acrescem painéis seus em várias estações de caminho de ferro, em que são representadas as atividades agrícolas e sociais (vindimas, trabalhos agrícolas, festas, procissões) próprias de cada região.
E falando de azulejos dos monumentos do Porto, importa assinalar os painéis frontal e lateral da capela das Almas, que qualquer turista passante gosta de fotografar, representando cenas da vida de S. Francisco, que são da autoria e com a assinatura bem visível de Eduardo Leite.
Desta forma, a proposta do Museu Nacional do Azulejo poderá ser um bom motivo para o cidadão e o visitante do Porto apreciar este extraordinário criador, em quantidade e qualidade, e a nobre capacidade de dar vida às tradições do povo e a episódios marcantes da nossa história e de vidas de santos, em que manifesta um profundo conhecimento da história do país e da iconografia hagiográfica. Estas obras possuem por isso uma forte componente pedagógica e cultural.
E pode também ser motivo para o visitante do Museu do Azulejo em Lisboa ser motivado para uma visita ao Porto, para apreciar mais longamente a obra de Jorge Colaço, que não se pode pôr em Museu, mas que está diariamente aos olhos de todos.
Assinatura de Jorge Colaço na Capela de Fradelos (Porto)