Não à violência e armas nucleares, apelos do Papa na visita à Tailândia e Japão

O Santo Padre visitou de 19 a 26 de novembro a Tailândia e o Japão naquela que foi a 32ª Viagem Internacional do seu pontificado. Abrimos aqui duas janelas para a visita do Papa: o discurso às autoridades da Tailândia no qual lembrou as vítimas de abuso e de exploração e no Japão a declaração sobre armas nucleares   

Por Rui Saraiva

Vítimas de abuso e exploração

O primeiro discurso do Papa Francisco em Bangkok foi na sede do Governo da Tailândia. Um país aonde os missionários portugueses chegaram em 1567. Após um breve encontro privado com o primeiro-ministro general Prayuth Chan-ocha, o Papa esteve com as autoridades, os membros do corpo diplomático e representantes da sociedade tailandesa.

No seu discurso o Papa saudou as “antigas tradições espirituais e culturais” da Tailândia, “nação multicultural e caraterizada pela diversidade” e lembrou a criação neste país de uma Comissão Ético-Social:

“Esta terra tem como nome liberdade” – recordou o Papa afirmando a necessidade de serem superadas as desigualdades através do acesso à saúde, ao trabalho, à educação: “… é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral” – disse Francisco.

Espaço no discurso do Papa para falar sobre a crise migratória, apontando que cada nação deve “proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração”.

Muito importante a referência de Francisco às vítimas de escravidão e abuso, especialmente as mulheres e as crianças: “… penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso” – declarou.

No final do seu discurso o Papa assinalou que as sociedades precisam de “artesãos da hospitalidade” que “cuidem do desenvolvimento integral dos povos”.

“… hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de artesãos da hospitalidade, homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna”.

De recordar que o Papa visitou na Tailândia o Patriarca Supremo dos budistas, e disse aos jovens tailandeses que o segredo de um coração feliz é estar ancorado a Jesus.

Aos bispos o Santo Padre pediu-lhes para atenderem às necessidades dos migrantes e dos refugiados, mas também a quem sofre o flagelo das drogas, o tráfico de pessoas, as más condições de trabalho e a desigualdade económica.

Abolir as armas nucleares

Muito importante o momento vivido no domingo dia 24 de novembro pelo Papa Francisco em Nagasaki no segundo dia da sua visita ao Japão. Ao visitar esta cidade, o Santo Padre prestou homenagem às vítimas das bombas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial. Francisco foi acolhido por dois sobreviventes desse terrível evento de metade do século XX. Esteve no Hipocentro da Bomba Atómica no interior do Memorial da Paz da cidade nipónica. Recolheu-se num breve momento de oração.

No seu discurso, o Papa sublinhou o horror do sofrimento causado pelas armas nucleares, como documentam recentes “descobertas na Catedral de Nagasaki”.

Francisco afirmou que a posse de armas “não é a melhor resposta” para a paz e estabilidade internacional que não se constroem através do “medo” – assinalou.

O Santo Padre ergue a sua voz “contra a corrida aos armamentos” e apelou a um futuro de paz que “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais” – disse o Papa.

Francisco referiu o perigo das novas tecnologias de armamento e declarou a necessidade de se romper com a desconfiança que prevalece na política internacional:

“É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controlo dos armamentos. Estamos a assistir a uma erosão do multilateralismo, agravada ainda mais com o desenvolvimento das novas tecnologias das armas; esta abordagem é bastante incoerente no contexto atual caraterizado pela interconexão e constitui uma situação que requer atenção urgente e dedicação por parte de todos os líderes” – declarou.

Francisco afirmou o empenho da Igreja Católica na promoção da paz, recordou o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares e o apelo dos bispos do Japão em julho passado sobre a abolição das armas nucleares. Reafirmou a força da oração, da “busca incansável de promover acordos” e de insistir no “diálogo” como autênticas “armas” pela paz. E pediu aos líderes políticos para não se esquecerem de que as armas nucleares não defendem das ameaças à segurança:

“Que a oração, a busca incansável de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as «armas» em que deponhamos a nossa confiança e também a fonte de inspiração dos esforços para construir um mundo de justiça e solidariedade que forneça reais garantias para a paz. Com a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares, peço aos líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo” – afirmou.

No final do seu discurso o Francisco propôs a Oração de S. Francisco de Assis “pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e da fraternidade”.

Ainda no domingo 24 de novembro o Papa participou num Encontro pela Paz em Hiroshima. No Memorial pela Paz, o Santo Padre afirmou: “Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!”

Aos bispos do Japão, Francisco pediu para defenderem a vida como dom precioso do Senhor e convidou-os a prestarem atenção aos jovens e às suas necessidades.