Gabriele Kuby é uma socióloga de origem alemã, que se converteu ao catolicismo em 1997. Num encontro realizado num hotel do Porto, expôs as ideias essenciais do seu livro, publicado pela Fundação A Junção do Bem e editorial Principia, intitulado “A Revolução Sexual Global: Destruição da liberdade em nome da liberdade”, um tema desenvolvido ao longo de 415 páginas.
Por M. Correia Fernandes
Os princípios desta obra assentam tanto em razões históricas e filosóficas, como em princípios bíblicos e teológicos, sobretudo a partir dos ensinamentos dos últimos Pontífices sobre as questões da sexualidade e do matrimónio cristão. Lembrou os ensinamentos do Cardeal Carlo Caffarra, que foi arcebispo de Bolonha, e da sua obra “Visão Cristã da sexualidade”, construída a partir da condição humana como imagem de Deus, na esteira da “Humanae vitae”, que procura proclamar a beleza do plano de Deus sobre a condição humana, visão reavivada por João Paulo II na sua teologia do corpo. Acentuou sobretudo a visão do Papa Bento XVI, na sua “visão maravilhosa e profunda” da família no equilíbrio da sociedade, construindo uma teologia da condição humana.
A tese essencial da autora merece bem ser considerada hoje: as transformações doutrinárias sobre a sexualidade nascidas no séc. XIX foram aproveitadas e desenvolvidas pelas doutrinas revolucionárias dos princípios do séc. XX, com a chamada revolução sexual, associando a sexualidade à ação política. Os movimentos de banalização da sexualidade conduzem a uma transformação destrutiva da pessoa humana, a começar pelas crianças e jovens. A introdução da chamada “educação sexual” nas escolas tem como efeito uma destruição da missão educativa e criadora de personalidade dos pais em relação aos filhos, criando uma espécie de “estatização” do que devia ser o desenvolvimento pessoal de cada sujeito humano no seu crescimento afetivo. O que deveria ser uma orientação para ação de “pais mais verdadeiros” na busca da felicidade dos filhos, acaba por tirar os filhos à tutela dos pais, transformando-os em agentes de uma sociedade que os despersonaliza, fazendo coincidir a biologia e os comportamentos hormonais com a moralidade e as condutas verdadeiramente humanas. Transforma-se uma educação que deveria ser fundada em valores humanos fundamenais, na ética e no equilíbrio, em comportamentos apenas conduzidos pelo instinto ou pelo desejo.
Assim, defende uma educação mais baseada nos valores que orientem todo o comportamento humano, superando a ideologia do prazer, que impõe às crianças uma sexualidade tal como é entendida pelos adultos, limitando a sua capacidade de construir a sua própria orientação pessoal.
Em todo este universo, Gabriele Kubi sente uma “rampa deslizante para um novo totalitarismo”, em que a liberdade individual é submetida às pressões sociais. Isto mesmo está patente na linguagem da oratória oficial sobre o tema, em que qualquer defesa dos valores essenciais e humanos da sexualidade é apresentada como uma espécie de retrocesso civilizacional. Considera que os termos “casamento” e “família” foram despojados do seu significado essencial e universal da relação entre o homem e a mulher e os seus filhos. O exemplo mais significativo vem de jardins de infância em que se proíbe o uso de “pai” e “mãe”, ou o que se passa em alguma linguagem corrente em que são substituídos nem sequer para masculino e feminino, mas por “progenitor A” e “progenitor B”. O autor do prefácio ao livro afirma que “a nossa liberdade está ameaçada por uma ideologia anti-humana”.
De facto o conceito “casamento” passou a significar apenas um ato jurídico e não uma relacionamento essencialmente afetivo e pessoal .
A esta mentalidade contrapõe a autora a palavra de Bento XVI: “Quando o homem se coloca contra Deus, coloca-se contra a sua própria liberdade, e por conseguinte não fica livre, mas alienado de si mesmo. Só somos livres na nossa verdade se estivermos unidos a Deus”.