“O dia mais triste…” – Ecos de uma homenagem

Parafraseando a conhecida máxima popular, gosto de dizer “quem meus pais beija minha boca adoça”. Com este espírito, quero associar-me à homenagem que, no dia 18 de outubro, foi prestada a D. António Ferreira Gomes, em memória dos 60 anos da «Carta a Salazar» e dos 50 do seu regresso do exílio.

Por João Alves Dias

E faço-o, no 54º aniversário da morte de sua mãe – “o dia mais triste do meu exílio”. Foi um dia especialmente doloroso para o filho que não pôde participar no funeral de sua mãe, porque o Governo de Salazar o não autorizou a entrar em Portugal e nem sequer a notícia pôde ser publicada nos jornais porque o seu nome tinha sido proscrito pela Censura. Consolou-o a presença massiva de clero e fiéis da sua Igreja do Porto. Esta participação só foi possível porque muitos padres e leigos percorreram a diocese a dar, em surdina, a triste notícia e informar a hora do funeral. Reconfortou-o, ainda, a companhia, em Roma onde estava, de vários sacerdotes que aí estudavam e com quem desabafou: “Quando morre o pai ou a mãe, deixamos de ser meninos”. Foi tão grande a sua dor que, quando regressou à terra, o primeiro local que visitou foi o túmulo da mãe onde se demorou a rezar. A Voz do Pastor (19/7/1969) publicou a sua fotografia junto do jazigo, com a legenda “Poema de amor e saudade“.

Já, em 21 de Novembro de 2010, a Voz Portucalense lhe prestou homenagem, no 45.º aniversário desse “dia mais triste”, com uma romagem a São Martinho de Milhundos em que participaram os familiares e muitos assinantes e colaboradores da Voz Portucalense, entre os quais sobressaía o Professor Levi Guerra, então diretor do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes. A Eucaristia, seguida de Te Deum cantado pelo Coro Gregoriano do Porto, foi presidida por D. João Miranda, em representação de D. Manuel Clemente que não pôde estar presente. O mesmo aconteceu a vários bispos que escreveram a lamentar a ausência. Recordo: D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima: D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas; D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa; D. Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga. Todos convergiam na mensagem enviada por D. Manuel Martins: “Julgo digno de muito louvor a iniciativa para o pf. dia 21 de Novembro”.

Em homenagem ao filho, os versos que ele gostava de dedicar «Às Mães»: “E o nome vosso, ó mães, não lembra um só instante! /- Quem sabe o nome vosso, ó mães de Tasso e Dante?” (Guilherme Braga) ”

Em honra da mãe -para que seu nome seja lembrado – as palavras da pagela comemorativa da sua morte – “À saudosa memória de Albina de Jesus Ferreira Gomes – Nasceu a 28 de Abril de 1877- Faleceu a 21 de Novembro de 1965 – * Stabat Juxta Crucem Jesu Mater eius” (Joan. XIX, 25)”. Quão pertinente e significativa é esta invocação da «Senhora do Calvário»: ”Junto da cruz de Jesus estava de pé Sua Mãe”…