Editorial: Falemos da Faculdade de Teologia

Decorreu no Porto a celebração dos cinquenta anos da Faculdade de Teologia. Tendo começado a sua atividade em 1968 em Lisboa, a Faculdade de Teologia da Universidade Católica lecciona desde há cerca de trinta anos também no Porto e em Braga.

Por Jorge Teixeira da Cunha

Esta data merece um momento de atenção, pois a teologia como ensino e como investigação nem sempre é valorizada como devia por todas as instâncias da Igreja.

O Papa Francisco aponta o caminho, quando escreve na recente constituição “A alegria da verdade”: “Estritamente ligado com a missão evangelizadora da Igreja está o vasto e pluriforme sistema dos estudos eclesiásticos que floresceu, ao longo dos séculos, pela sabedoria do Povo de Deus, sob a guia do Espírito Santo e no diálogo e discernimento dos sinais dos tempos e das diferentes expressões culturais” (Veritatis gaudium, 1).

Se é certo que o Evangelho não é uma teologia nem esta serve para ser pregada, não é menos verdade que o centro da mensagem evangélica está sempre envolvido numa forma cultural sobre a qual é necessário ter perícia para estar à altura da missão do anúncio e da concretização do modo de viver a vida em Cristo, em cada tempo e lugar. Esta perícia é competência da reflexão teológica. A fé ilumina a razão humana e esta, por sua vez, expande-se e encontra o seu pleno coroamento na abertura na abertura à revelação divina.

O caminho da Igreja na história levou à fundação e expansão da universidade, à volta da faculdade de teologia, como exercício livre de projetos culturais que deram o mundo desenvolvido que somos hoje na Europa e nas regiões de sua influência. A Idade Moderna, não obstante fundada nas ideias oriundas do cristianismo, impugnou e, nos países do Sul da Europa, expulsou a teologia da universidade, como elemento nocivo à liberdade. Foi isso que aconteceu em Portugal, em 1911, tendo deixado de existir um curso de teologia nas universidade estatais. Essa situação mantém-se por discutir na universidade portuguesa, coisa que é, a nosso ver, escandalosa à luz de uma racionalidade digna desse nome. Por isso, a Igreja viu-se na necessidade de criar a sua própria universidade para ter de novo um ensino e investigação em teologia.

A Faculdade de Teologia que temos hoje necessita, antes de mais, de ser adoptada e acarinhada pelas dioceses portuguesas. Se bem observamos, ela não é especialmente estimada tanto por fiéis leigos como por sacerdotes, mesmo pelos que têm sido nela formados para o ministério. A responsabilidade deste alheamento recíproco é, a nosso ver, de ambas as partes. Talvez a faculdade não olhe com a devida atenção para as necessidades do povo de Deus. Mas, por sua vez, as dioceses olham de soslaio para uma universidade que não consideram sua. Passado este meio século de consolidação, urge um esforço recíproco da parte da Universidade Católica e da Igreja para se aproximarem.

A nosso ver, a importância da Faculdade de Teologia vai ser sempre maior na formação dos ministros da Igreja do futuro. Por sua vez, as questões que se debatem hoje a nível político, como o desenvolvimento da tecnologia, o trabalho humano, a justiça social, necessitam de uma reflexão antropológica e ética em que a Universidade Católica não pode deixar de ter um papel relevante. A Igreja tem todo o interesse em pedir exigir à sua universidade que seja um espaço livre e criativo em ordem à inovação cultural e institucional. Para isso, tem de a acarinhar e de lhe criar condições de trabalho.