Durante a nossa vida vamos pensando em figuras que tiveram em tempos históricos papeis preponderares. Um deles é Judas, Iscariotes, aquele a quem chamamos de “traidor”, sobre ele aprendi com um bispo anglicano já falecido – D. Daniel Pina Cabral -, que talvez não seria bem assim.
Por Joaquim Armindo
Mas sobre isso não escrevo hoje. Curiosamente é outro bispo anglicano – D. Nicholas Thomas Wright -, que no seu excelente livro “São Paulo – a biografia” (editora D. Quixote), coloca um toque de como os seguidores de Jesus o receberam e dele duvidaram. Saulo de Tarso perseguidor dos cristãos, estaria mesmo como mandante no assassinato do diácono Estevão, era um judeu fervoroso, cumpridor da fé abraâmica, que procurava a “restauração” prometida por Isaías e Ezequiel. O seguidor inquebrantável da Lei do Templo onde viveria o único Deus da Criação. Conhecia muito bem a Torá e seguia os ensinamentos do tempo sobre a oração e o jejum. Ele seguia as tradições dos patriarcas, do primeiro homem Adão e da primeira mulher Eva. Esperava que Deus, o único Deus da escada de Jacob, viesse na Sua Glória e inaugurar um novo Reino de Israel, o Messias de Israel.
Quando na “estrada de Damasco” é envolvido por nuvens de dúvidas e dos seus olhos caem as escamas dos poderes do templo e político, começa a perceber que não é assim. Ananias cheio de receios quanto a Saulo, chama “irmão Saulo”, tu és deste grupo rebelde, vem, serás batizado – livre do pecado -, e continuarás o caminho da estrada. Estava certo que aqueles e aquelas que seguiram Jesus em vida, iriam colocar imensas questões sobre a sua admissão ao “grupelho cristão”, que andava a semear uma doutrina esquisita. E assim aconteceu, os apóstolos quando viram e ouviram Paulo a anunciar o Evangelho do Amor na Sinagoga, ficaram confusos e a própria comunidade judaica de Damasco perplexa. Quando chega a Jerusalém os líderes da comunidade ficaram tão desconfiados desta reviravolta e dos “sarilhos” em que se metiam para receber Paulo, que o levaram até ao mar de Cesareia e recambiaram-no num barco para casa.
Ao refletir sobre este acontecimento, penso em tantos Saulos-Paulos existentes hoje, em que poderes – muitas vezes seguidores de Jesus -, rejeitam as pessoas por aquilo que fizeram. O que talvez aconteça mesmo ao nosso lado!