Bem no coração do Centro Histórico do Porto fica a freguesia de S. Nicolau. Outrora comunidade numerosa, que atingiu os oito milhares de habitantes; hoje, porém, com uma população que desceu para os dois mil residentes.
Por Lino Maia
Foi a partir da década de sessenta que, irreversivelmente, a sua população começou a diminuir, agravando-se o decréscimo com o mercado a imperar sobre as pessoas. Com acentuadas dificuldades, por ali foram restando alguns entre os pobres e os idosos…
Mas não só: com notável ação social também ficou a Igreja. O seu principal rosto tem sido o Padre Agostinho Jardim Moreira, um sacerdote que, assumindo que “a pobreza é injusta e expressão de outras injustiças”, é uma voz a clamar por justiça. Aquém e além fronteiras, com intervenções públicas, e com a sua ação naquela paróquia que D. António lhe confiou quando, em 1969, regressava do seu longo e injusto exílio.
Ali, o pároco e um conjunto de paroquianos, alguns dos quais jovens, eram cada vez mais solicitados para apoiarem numa série de situações sociais de carência e de exclusão. Inicialmente, em instalações disponibilizadas pela paróquia. Com o tempo a passar e as solicitações a aumentarem, em Novembro de 1989, foi criado o Centro Social e Paroquial de São Nicolau e assegurado um acordo com a Segurança Social para uma ação mais abrangente e mais consistente. E, como as precárias instalações já não correspondiam às solicitações, com o recurso a um financiamento de Fundos Comunitários, o Centro adquiriu e recuperou as suas atuais instalações.
Com a atual designação de Centro Comunitário, em regime de porta aberta, desde o ano de 2002, na Rua de S. João, ficou .a funcionar uma organização de desenvolvimento local, facilitadora do acesso aos direitos fundamentais. Os seus utentes são agentes na construção do seu próprio devir e são pessoas que por ali se mantêm, portadoras de tradições que valorizam e de um sotaque que atrai.
Com um corpo técnico de 9 colaboradores e de alguns voluntários, o Centro diversifica a sua ação pelas áreas da cultura, dinamização económica, educação, lazer, participação, psicologia e serviço social. Ali, existe um centro de apoio ao estudo e um espaço lúdico e de formação sociocultural. Tem um clube de emprego e de gestão de voluntários. Há um gabinete de atendimento local e de acompanhamento da população em geral e dos sem abrigo em particular. Faculta um serviço de consulta livre, de orientação vocacional e de apoio à transição escolar. Favorece grupos de desenvolvimento pessoal e social, como os “jovens veteranos”, “mãos à obra”, “sete ofícios” e teatro. Promovem-se campos de férias, exposições de trabalhos realizados pelos utentes, festas comunitárias e cíclicas, participações em iniciativas culturais e programas de férias letivas e projetos de apoio à dinamização comunitária e à sustentabilidade. Entre outras iniciativas, no cartaz da cidade são já atrações tanto o Presépio ao vivo e o Carnaval, como as festas de S. Nicolau, a dos Reis e a dos Santos Populares.
Com a sua opção preferencial pelos mais pobres o Centro de São Nicolau é exemplo de uma Igreja que faz dos homens o seu caminho e que tem maior visibilidade onde as carências têm maior expressão…