
Declaração de canonização decorreu na Catedral de Braga.
No domingo 10 de novembro a Arquidiocese de Braga viveu um dia de festa e alegria. Foi solenemente anunciada a santidade de Frei Bartolomeu dos Mártires que foi arcebispo de Braga. Dia importante também para a diocese de Viana do Castelo, cidade onde viria a falecer e onde repousam os seus restos mortais.
S. Bartolomeu foi um homem que apenas queria servir a Igreja na simplicidade, mas acabou por ser chamado a liderar a mais antiga diocese do Reino de Portugal: a Arquidiocese de Braga.
Declarado venerável a 23 de março de 1845 pelo Papa Gregório XVI e beato a 4 de novembro de 2001 por João Paulo II, foi já com o Papa Francisco que em 2016 foi autorizada a sua canonização por critério equipolente, ou seja, sem a atribuição de um milagre.
A 5 de julho deste ano de 2019 Francisco promulgou o decreto de canonização. Foi em latim e em português que esse mesmo decreto foi lido na Catedral de Braga numa Eucaristia presidida pelo Cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.
D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, na sua palavra de saudação, assinalou a atualidade do exemplo e testemunho de S. Bartolomeu dos Mártires, apresentando-o como autêntico discípulo missionário.
Destaque para as presenças nesta Solene Eucaristia de D. Anacleto Oliveira, Bispo de Viana do Castelo, do Superior da Ordem Dominicana, Frei José Nunes e do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Presente também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bispos de Portugal e da Galiza e autoridades civis, militares e académicas.
Um pastor modelo com empenho na reforma da Igreja
Na sua homilia, o Cardeal Angelo Becciu sublinhou que “Bartolomeu Fernandes dos Mártires aparece antes de tudo como uma figura de primíssima importância pela profundidade da sua cultura teológica e do seu ensinamento, como douto e exemplar mestre da Ordem dos Pregadores”.
O purpurado destacou “o forte empenho pela reforma da Igreja” revelado por S. Bartolomeu assumindo um perfil de “zeloso pastor de almas” tendo sido um “dos mais férvidos e conceituados padres do Concílio de Trento” – frisou.
“S. Bartolomeu foi um verdadeiro modelo de pastor, ele seguiu o divino Pastor e se inseriu na sua escola. Eleito no Outono de 1557 prior do convento de Benfica, Frei Bartolomeu levou consigo os conteúdos da sua espiritualidade, tornando-se um procurado mestre de vida interior” – disse o Cardeal Becciu.
O prefeito para a Congregação para a Causa dos Santos recordou que era costume de S. Bartolomeu “reunir os confrades noviços” para procurar fomentar a prática de “uma assídua oração interior” que permitisse “saborear como suave é o Espírito de Deus”. Lembrou também a preocupação do novo santo com a formação cristã.
S. Bartolomeu foi um bispo que na sua “missão pastoral” suscitava “afabilidade e doçura nas relações humanas, misericórdia e generosidade com o povo” – salientou ainda o Cardeal Becciu assinalando a importância que S. Bartolomeu dava às visitas pastorais fazendo “da sua vida e do seu ministério uma oferta incessante às pessoas confiadas ao seu cuidado pastoral, não governando o rebanho de longe, mas indo de encontro aos outros com imenso ardor apostólico”.
O Cardeal Becciu referiu mesmo um exemplo prático, revelador da entrega de S. Bartolomeu dos Mártires ao seu trabalho pastoral junto dos pobres, quando no “tempo da peste de 1570, se recusou a obedecer ao Rei e ao Cardeal que lhe tinham suplicado a deixar Braga. Preferiu colocar em risco a sua vida que abandonar os empestados e deixar os sãos isolados e desprovidos de todo o socorro por causa da epidemia” – declarou o Cardeal.
O perfil de um santo
Bartolomeu Fernandes nasceu a 3 de maio de 1514 em Verdelha, Mártires, na região de Lisboa, no seio de uma família humilde. Foi batizado na Igreja dos Mártires, daí o apelido que lhe foi acrescentado ao nome.
Ingressou na Ordem Dominicana a 11 de Novembro de 1528. Só começou o seu primeiro curso de Teologia em 1542, aos 28 anos de idade. Em 1551 recebeu em Salamanca o grau de Mestre em Teologia.
Em 1557 torna-se Prior do Convento de Benfica, mas permanece no cargo por pouco tempo. Em 1558, S. Bartolomeu foi escolhido e quase obrigado a suceder a D. Frei Baltasar Limpo, arcebispo de Braga que faleceu nesse mesmo ano.
Foi arcebispo de Braga entre 1559 e 1582 numa região que compreendia as atuais dioceses de Braga, Vila Real, Bragança-Miranda e Viana do Castelo. Muito importante no percurso episcopal de S. Bartolomeu, foram as visitas pastorais. Realizou mais de 90 visitas em todas as 1260 paróquias que faziam parte da Arquidiocese de Braga. Tornou obrigatória a homilia e promoveu o ensino da doutrina cristã escrevendo um catecismo que distribuiu a todos os clérigos do Arcebispado.
Foi notável a sua participação no Concílio de Trento vivido em tempo de crise para a Igreja. “Distinguiu-se logo pelas suas virtudes, pela vasta erudição, pela extraordinária capacidade de iluminar os vários temas afrontados pelo Concílio e pelo constante empenho no promover a reforma da Igreja” – pode-se ler na declaração de canonização que foi lida na celebração de canonização.
De regresso a Braga após o Concílio de Trento investiu na formação dos seminaristas e sacerdotes e fundou o Seminário Conciliar de Braga.
S. Bartolomeu dos Mártires foi um bispo empenhado nas obras de caridade. Resignou em 1582. A 16 de julho de 1590 faleceu em Viana do Castelo no Convento de Santa Cruz. Por sua vontade foi nesse convento que foram depositados os seus restos mortais.
No coração do povo, S. Bartolomeu dos Mártires ficou conhecido como “arcebispo santo, pai dos pobres e dos doentes”.
(RS)