É uma menina. Sorriso largo e cativante. Traz uma camisola onde se lê o número do preso Nelson Mandela. O seu cabelo comprido faz lembrar a audácia do vento que passa. Tem uma irmã. Tem os seus pais empregados. Sem problemas financeiros.
Por Joaquim Armindo
Um avô falecido, mas muito conceituado e admirado na cidade do Porto. As suas mãos são pergaminhos de força. A sua voz feminina transportadora dos lençóis brancos do mar. A areia a lamber-lhe o rosto de quem não precisa de nada. Podia tirar o curso que quisesse. Escreve e os seus familiares admiram a sua escrita. A sua voz é firme como os pinheiros em flor. E as acácias verdejam dos seus lábios. O pai e a mãe vivem muito bem. Ela não precisava de se preocupar. Mas existe sempre uma outra história na vida de cada um e de cada uma. Na dela também. Estava em economia e via os seus amigos terem emprego nos grandes bancos. Ouvi o seu testemunho. Todas as pessoas a acarinhavam e acarinham. Pertence a uma paróquia que lhe dá ser. Não tinha de se preocupar com o almoço ou o jantar. Nem com o pequeno almoço. Praticava dança, como não podia deixar de ser.
Mas há sempre uma outra história, como refere constantemente. No testemunho que audaciosamente descreve a sua vida. E de como existe sempre outra história na vida de cada um. Um dia começou a pensar. A pensar o que Deus queria dela. Conheceu um grupo do Porto. O GAS – África. E partiu para Cabo Verde. Aí encontrou outras pessoas. Outros viveres. Outras portas que não sabia existirem. Mas que davam ser. No regresso passou a sentar-se ao lado de outras pessoas diferentes. Isto fez ver-lhe outros caminhos, que não seriam mais “seguros”, mas que ama. Mas uma vida vivida com sentido. Pensou em ser psicóloga. Ou enfermeira. Para estar mais perto das pessoas com dificuldade. E já não sabia para onde ia, mas sabia que não ia por aí, referindo José Régio. Com todas as interrogações na cabeça, participa em retiros espirituais na sua igreja. E parte mais uma vez. Para Timor-Leste. Aí aprende a grande lição de viver com os outros. Encarecidamente refere o seu amor por Jesus.
E termina: “Nós não somos o que temos, mas a relação do que temos com o que temos”. A menina é do Porto. E é a Mariana Sá Couto.